São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995 |
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Real 2 tumultua campo na boca da safra
JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
"Os últimas dias foram uma tragédia para o setor agrícola, afirma Guilherme Leite Dias, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura. Uma das novidades do pacote, a autorização para os bancos captarem recursos externos para financiamentos agrícolas, vai funcionar de forma precária, admite Dias. A crise mexicana elevou os juros internacionais para os empréstimos à América Latina. Além disto, o Real 2 acelerou a fuga de capitais, aumentando a desconfiança em relação ao plano econômico. Dias diz que o cenário é nebuloso nos próximos dois meses, justamente no pico de safra. Ele explica ainda que a alta dos juros no mercado interno, provocada pelo ajuste cambial, vai encarecer ainda mais os empréstimos agrícolas indexados em TR. O país, segundo Dias, precisa captar cerca de R$ 1 bilhão no exterior para complementar a necessidade de recursos para a safra, uma vez que o Tesouro Nacional não tem mais dinheiro disponível. "Fomos atropelados pela crise mexicana e seus reflexos no Brasil", afirma. Segundo o secretário de política agrícola, o setor agrícola é o mais afetado no momento. A fuga de capitais diminui o volume de dinheiro no mercado financeiro e coloca os bancos numa posição defensiva, preferindo empréstimos com prazos curtos a clientes com liquidez garantida. Já a agricultura, diz Dias, precisa de crédito com prazos maiores e é uma atividade de risco. "É um momento em que os bancos optam mais por aplicar na carteira de títulos públicos do que financiar o setor privado", diz. A esperança do secretário é que em abril a economia se estabilize, com a absorção pelo mercado da nova política cambial e recomposição das linhas de financiamento. Neste momento, Dias recomenda aos agricultores mais capitalizados que não se desesperem vendendo sua safra imediatamente. Aos produtores descapitalizados, a alternativa é negociar a prorrogação do vencimento de suas dívidas para ganhar algum fôlego na comercialização. Desde a última semana, os produtores que contrataram financiamentos pelo sistema equivalência-produto começaram a fazer o acerto da dívida com os bancos. "Isso vai retirar do mercado parte da produção e contribuir na sustentação dos preços", diz Dias. O sistema de bandas cambiais, que desvalorizou o real frente ao dólar, deve sustentar o mercado da soja, avalia ele. Mas terá efeitos apenas marginais nos mercados de arroz e milho. LEIA MAIS Sobre o Real 2 no campo na pág. 6-3 Próximo Texto: Agricultor faz dia de protesto no Sul Índice |
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