São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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Professor usa palmatória em alunos

ADELSON BARBOSA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUNCO DO SERIDÓ (PB)

O professor primário Amagir Natálio da Silva, 56, usa uma palmatória como método pedagógico na escola onde dá aulas no sertão da Paraíba.
Há quatro anos, Silva pune com a palmatória a única turma de 13 alunos do grupo escolar municipal Natálio Alves, localizado no Sítio Exu, na zona rural de Junco do Seridó (a 233 km de João Pessoa).
Em uma mesma sala, estudam quatro alunos da primeira série, seis da segunda, dois da terceira e um da quarta.
Segundo ele, os alunos têm medo da palmatória e, por isso, se comportam. "Quando o aluno não tem bom entendimento e é perverso, eu o chamo com a palmatória", disse Silva.
No ano passado, um estudante de 11 anos foi castigado por ter cuspido no rosto de algumas meninas e levantado as saias de outras.
"Fiquei nervoso com a atitude do aluno. Peguei a palmatória, dei quatro bolos nas mãos e ele se urinou todo", afirmou o professor.
Segundo ele, o uso da palmatória é apoiado pelos pais. "Comuniquei o ocorrido ao pai do aluno, que esteve na escola. O pai também o disciplinou e hoje o menino é o meu melhor aluno", declarou.
A secretária municipal de Educação, Maria Célia Balduino de Azevedo, disse que nunca recebeu reclamações dos pais.
Silva defende o método "antigo" de ensino. "Ensino a soletrar, aplico ditado, mando fazer cópias, pego na mão para ensinar o desenho das letras, insisto nas quatro operações matemáticas, dou aulas de religião, obrigo os alunos a cantar o Hino Nacional e até falo sobre Aids", afirmou.
Silva vai à escola montado no lombo de um burro. Ele dá aulas em outras duas escolas (uma do município e outra particular) em sítios de Junco do Seridó.
Quando tem de faltar, entrega a sala de aula para sua filha, Débora Cavalcante da Silva, 17, que estuda na oitava série (primeiro grau) de uma escola estadual em Santa Luzia (PB).
Silva ganha R$ 27,00 por mês como professor e R$ 70,00 como agente comunitário de saúde.
Tem um sítio, onde planta feijão e milho, e é presidente de uma associação comunitária que reúne 70 famílias de dez sítios.

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