São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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Comércio reduz as encomendas

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com medo dos efeitos do pacote anticonsumo e do aumento das taxas de juros, lojas e supermercados colocam pé no freio no volume de encomendas neste mês.
"Notamos que os pedidos do comércio estão bem mais moderados", diz Freddy Mastrocinque, diretor-superintendente da Multibras, que reúne as marcas Brastemp, Consul e Semer.
Para ele, a tendência é de as lojas manterem as compras num ritmo menos acelerado daqui para frente.
"Isso por causa das medidas para conter o crédito e também da limitação da capacidade de endividamento do assalariado."
A Black & Decker é outra que sente os lojistas bem mais calmos na hora de adquirir os produtos. "Se antes eles corriam a 100 quilômetros por hora, agora diminuíram a velocidade para 80 quilômetros por hora", afirma Jacques Wladimirski, diretor de marketing.
"A pressão para entregas acabou", diz Lourival Kiçula, diretor-geral da Sanyo da Amazônia.
Felippe Arno, diretor-presidente da Arno, lembra que os produtos que custam mais de US$ 500 devem ser os menos procurados por causa do aumento dos juros.
A rede de lojas A Barateira, especializada em móveis, cortou em 30% as encomendas neste mês.
É que as vendas caíram 15% na primeira quinzena de março sobre igual período de fevereiro, afirma Isaac Liberman, proprietário. "Se antes corríamos atrás das indústrias, hoje são elas que correm atrás de nós."
Murad Salomão Saad, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo, que reúne 25 mil pontos de venda, confirma que o movimento neste mês é inferior ao de fevereiro.
"Endividado com os gastos no final do ano, o consumidor só teve renda para as compras de material escolar", diz Saad.
Firmino Rodrigues Alves, presidente em exercício da Apas (Associação Paulista dos Supermercados), diz que as vendas do setor hoje chegam a ser até mesmo menores do que as do mês passado.
Na sua avaliação, o consumidor se endividou muito no final de 94 e agora enfrenta os vencimentos do IPTU e do IPVA.
Para se resguardarem da queda nas vendas, os supermercadistas também mudaram o ritmo de compras nas indústrias e estão revendo as encomendas para a Páscoa.
No início do ano, o setor esperava vender entre 25% e 30% a mais na Páscoa de 95, sobre a de 94. "Agora, com o consumo mais retraído, esperamos crescer cerca de 20%, no período", diz Alves.

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