São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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Clima do mercado é de desconfiança

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA

Reportagem Local
O mercado financeiro viveu ontem um clima de caça às bruxas e de generalizada desconfiança.
Circularam inúmeros boatos. Desde demissões de mesas inteiras de bancos, que teriam terminado a semana passada com prejuízos enormes, até uma lista das instituições que estariam sob investigação do Banco Central (BC).
Desta suposta lista fazem parte tanto instituições "dealers" (que atuam no mercado em nome do BC) como outras.
Elas estariam sendo investigadas por três possíveis motivos: 1) "inside information" (o que envolve o governo e não só bancos); 2) especular contra o real; e, no caso dos "dealers", 3) não repassar ao mercado informações prestadas pela autoridade monetária.
Em Brasília, o governo preferiu não se pronunciar sobre o assunto. Mas, antes de acabar com o sistema de "dealers", segundo a Folha apurou, o BC pretende punir os bancos que manipularam informações sobre as mudanças na política cambial.
O objetivo do BC é duplo: dar um exemplo ao mercado e evitar que os "dealers" que atuaram corretamente tenham suas imagens prejudicadas com o fim do sistema.
O desconforto entre os "dealers" e o BC é patente no mercado desde a última terça-feira (dia em que estiveram reunidos em Brasília).
Parte deste processo de desconforto foi alimentado por declarações do presidente do BC, Pérsio Arida, em entrevista publicada na Folha este domingo.
Segundo Arida, o BC estaria investigando a atuação de várias instituições financeiras e muitas delas poderiam ser descredenciadas da função de "dealer" (bancos que tuam no mercado em nome do BC).
Na entrevista, o presidente do BC culpou bancos pelo clima de pânico criado na chamada "semana negra do real".
Arida disse que, na hipótese de ter havido um erro na comunicação das novas medidas cambiais, ele não seria suficiente para provocar a corrida contra o real que aconteceu especialmente na última quinta-feira.
Sempre falando desde que seus nomes não fossem publicados, analistas do mercado financeiro acreditam que o BC esteja apenas criando uma cortina de fumaça. Para ele, o objetivo do governo é tirar do centro da discussão os erros de operação praticados pelo próprio governo quando da mudança na política cambial.
Ontem aconteceram novos quatro leilões de compra de dólares. Os bancos que operaram como "dealers" foram exatamente os mesmos da última sexta-feira —nenhuma instituição nova foi descredenciada, apesar das declarações de Arida.

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