São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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O papel de Gustavo Franco

LUÍS NASSIF

Um balanço sereno do terremoto cambial, com as informações adicionais do final de semana, obriga a uma reavaliação do papel do diretor da área internacional, Gustavo Franco, no Banco Central.
Atropelado pelas disputas internas no BC, submetido a um profundo processo de desgaste interno, em nenhum momento Franco deixou que ressentimentos viessem à tona. Mesmo quando, à falta de informações completas sobre o episódio, foi-lhe debitada a imperícia na condução das mudanças —entre outros, por esta coluna.
Era de Franco a melhor proposta (não aceita) de alteração da politica cambial: a valorização gradativa do dólar e a mudança da banda cambial através das operações de mesa, sem anúncios prévios.
Derrotado, definiu uma segunda alternativa, um tanto mais complexa, mas razoável, e exposta com clareza na reunião mantida com a imprensa na segunda-feira —presentes ele e o presidente do BC, Pérsio Arida. Durante todo o tiroteio cambial, suas explicações sobre a nova política mantiveram coerência com o que foi dito na reunião com os jornalistas.
Coube-lhe, na quinta-feira à noite, a definição da estratégia final, que derrotou os especuladores. Apesar de suas responsabilidades no atraso cambial do ano passado, sua conduta foi relevante para devolver a paz ao mercado.
Demonstrou segurança, conhecimento técnico e espírito público.
Serra explica
Informa o ministro do Planejamento, José Serra, que as medidas provisórias remetidas na semana passada ao Congresso (e que geraram crise interna, pela falta de hábito do ministro de consultar colegas de ministério ou explicar publicamente seus atos) tinham uma lógica que não foi percebida:
1) Em relação ao FAT, a idéia era dar um prazo maior para o Tesouro repassar os recursos do PIS-Pasep, mas sem prejudicar o fundo. Às vezes vai-se fechar o mês com déficit, e bastaria repassar os recursos no dia 2 do mês seguinte para fechar as contas. Hoje, o Tesouro repassa na data marcada, há o registro do déficit e o FAT deposita o dinheiro no BC.
2) Serra considera absurdo o artigo de lei que dizia que todo déficit da Previdência deveria ser bancado pelo Tesouro. Esse artigo foi criado para consertar o estrago feito pelo ex-ministro da Previdência, Antônio Britto, nas contas do órgão. Além disso, a Previdência enfrentava problemas com as disputas judiciais em torno da Cofins. Hoje em dia, além de não mais repassar recursos para a Saúde, a Previdência conta com recursos crescentes da Cofins. Por isso, diz Serra, não haveria mais a necessidade desse dispositivo que, em sua opinião, só atrapalha o objetivo de fazer da Previdência um órgão auto-sustentável.

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