São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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Silício & silicone

MARIA ERCILIA
EDITORA-ADJUNTA DO MAIS!

Lembra aquela história de que o cinema ia acabar com o teatro? Ou a TV ia liquidar o cinema, e depois o vídeo ia exterminar todos eles?
E o rádio então? Seguindo esse raciocínio, devia estar morto há muito tempo.
Como estas profecias, tem muitas. Por causa do telefone, ninguém mais ia escrever cartas. Por causa dos computadores, as pessoas iam se isolar completamente umas das outras.
Ou com TV, cinema e vídeo, ninguém mais ia ler.
Com a Internet, não vão sair mais de casa, nem ler livros, nem sei lá o quê.
Bom, a minha regra de ouro para profecias alarmistas é que elas costumam dar errado (quando alguma desgraça de fato acontece, geralmente ninguém previu). Talvez elas sejam principalmente uma reação defensiva, uma maneira de racionalizar o que é novo. A Internet, longe de estar matando outras formas de comunicação e cultura, é um verdadeiro cadinho de artes e tecnologias híbridas, além de funcionar como um repositório de informação das "velhas" formas culturais.
Peguemos por exemplo o cinema, que está completando cem aninhos este ano (é um jovem, mas a Internet só tem 26). Só uma voltinha pelos bancos de dados, "páginas" e arquivos de cinema e já topei com o Internet Movie Database (40 mil filmes, 500 mil verbetes). Procurando um pouco, tem serviços da Disney, da Warner, resultados do Oscar etc. A maioria dos serviços é de Los Angeles, onde tem computador e cinema de sobra. Teve até concurso de adivinhação do Oscar na World Wide Web, com prêmio e tudo.
Mas estes serviços não são muito diferentes do que se acha em revista e livro. Legal mesmo são coisas amadoras como a "Hong Kong Movies Homepage", feita por um estudante sueco, Lars Erik Holmquist. Tem filmografias, montes de fotos, entrevistas e FAQ sobre os filmes de Hong Kong. E tem, claro, uma página só para John Woo.
Ou então os arquivos de fãs, que são coleções de fotos e fotos de atores e atrizes. Ou a página alt.sex.movies na World Wide Web. É bem absurda, tem umas listas que só vendo.
Em compensação, a Internet no cinema... Aquele filme "Assédio Sexual" dá uma idéia do que Hollywood acha do potencial cinematográfico do e-mail. Mas não era sobre molestamento sexual? Não. Toda a trama gira em torno de uma empresa que desenvolve programas de realidade virtual, e Michael Douglas não pára de receber mails enigmáticos no seu computador. No fim não dá para entender por que a pessoa que mandava os tais mails não o chamou para uma conversa e já não resolveu a história toda de uma vez. As cenas de "realidade virtual" são um fenômeno. Demi Moore fantasiada de videogame do mal, apagando arquivos que nem uma louca. Para quê tanto silicone? E as pessoas ainda se preocupam se a Internet vai acabar com a vontade de ir ao cinema. Mais fácil acontecer o contrário...
O e-mail de NetVox é folha@sol.uniemp.br

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