São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Conflitos religiosos matam 8 em Istambul

TONY BARBER
DO "THE INDEPENDENT"

Oito pessoas morreram nos distúrbios ocorridos em Istambul ontem, com troca de tiros entre a polícia turca e centenas de manifestantes armados da minoria muçulmana alauita.
Multidões fecharam várias ruas com barricadas de madeira e metal em chamas e atiraram coquetéis Molotov contra os policiais, que se refugiaram atrás de blindados. A polícia reagiu com disparos.
Os combates começaram domingo em Gaziomanpasa, subúrbio pobre, depois que atiradores não-identificados atacaram quatro cafés alauitas, matando duas pessoas e ferindo 15. Grupos alauitas acusaram a polícia e militantes sunitas de instigar os ataques.
A maioria da população turca, de 60 milhões, é formada por muçulmanos sunitas. Os alauitas pertencem a uma ramo xiita progressista do islamismo. As tensões entre sua comunidade e setores sunitas vêm aumentando desde que um movimento islâmico militante, o Partido do Bem-Estar Social, ganhou eleições municipais em 94.
Manifestantes alauitas fizeram passeatas por seus bairros no domingo, gritando as palavras de ordem "Abaixo o fascismo" e "Não queremos a sharia (a lei islâmica)". O ministro do Interior da Turquia, Nahit Mentese, disse que quase cem lojas e três viaturas da polícia foram destruídas nos distúrbios. Um manifestante alauita foi morto à noite.
"Isto é obra de grupos estrangeiros interessados em dividir o povo turco", disse Mentese. Ontem as autoridades impuseram um toque de recolher no bairro alauita de Gmai, começando às 16h.
Um jornal de Istambul recebeu telefonemas anônimos de grupos que disseram ser responsáveis pelo ataque. Seriam dois grupos pouco conhecidos, a Grande Frente dos Atacantes Islâmicos Orientais e a Brigada da Vingança Turca.
Pistoleiros dispararam armas automáticas de um carro em direção aos cafés, enquanto os fregueses alauitas assistiam a uma partida de futebol na televisão.
Após fugirem num táxi, mataram o motorista a facadas.
Horas depois, centenas de alauitas começaram a chegar à área, vindos de outros bairros de Istambul, para protestar contra os ataques. Carros foram incendiados, e os manifestantes marcharam pelas ruas armados de barras de ferro, paus e garrafas cheias de gasolina.
Os distúrbios foram os mais violentos envolvendo a minoria alauita desde julho de 1993, quando um incêndio num hotel ocupado por escritores e cantores alauitas matou 37 pessoas em Sivas (Anatólia central).

Texto Anterior: Cabrera Infante critica Paris
Próximo Texto: Peres pede indústria que dê emprego a palestinos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.