São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
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Davi e Golias

As finanças podem acelerar a acumulação de riqueza. Mas essa acumulação pode ganhar uma dimensão própria e, no limite, o estouro de bolhas especulativas às vezes destrói a riqueza real.
Na Cúpula para o Desenvolvimento Social, em Copenhague, o presidente francês François Mitterrand sublinhou a idéia de uma taxação internacional sobre a movimentação com divisas, idéia originalmente apresentada pelo Nobel de Economia James Tobin.
Desde os anos 40, quando se discutia a fundação do FMI, está na agenda internacional a criação de mecanismos que compensem, através de instâncias supranacionais de gestão monetária e financeira, os desequilíbrios regionais ou as turbulências especulativas.
Há por certo algo de utópico em todas essas propostas. Mas se afinal já foi possível criar um FMI, uma ONU ou um Banco Mundial, não há por que imaginar que a reforma dessas instituições ou mesmo a criação de novas seja inviável.
Entretanto é preciso também reconhecer que, seja taxando as operações especulativas, seja criando novos fundos de estabilização supranacionais no FMI ou noutras instâncias, tais progressos dependem antes de tudo de ações decisivas das grandes potências.
Seja qual for a proposta distributivista, o fato básico é que se trata de conseguir dos mais ricos que apóiem e contribuam para o sucesso dessas reformas. Aliás isso já ocorreu no passado, por exemplo com o Plano Marshall ou mesmo mais recentemente, quando o governo dos EUA depois de relutar afinal apoiou propostas de securitização da dívida externa de países em desenvolvimento (através do chamado Plano Brady).
As crises de hoje mostram a atualidade do tema da regulamentação das exorbitâncias financeiras. As iniciativas em favor de maior estabilidade dependem, entretanto, mais dos Golias do centro que dos Davis da periferia. O que não significa que uma pedrada certeira não possa às vezes abalar os gigantes, como revelou a crise mexicana.

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