São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 1995
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Ocimar Versolato quer ser a cereja do bolo

ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL A PARIS

Ele, o nosso homem em Paris, desfila sua terceira coleção neste domingo. Ocimar Versolato, 33, o primeiro (e único) estilista brasileiro no prêt-à-porter francês põe Karen Molder, Naomi Campbell, Patrícia Hartman, Claudia Maison, Emma S., Silvia Pintor e Gisele Zelauy para interpretar seu sonho de elegância contemporânea.
Ocimar cresceu. Hoje tem 16 pontos de vendas no mundo, entre eles os importantes Sak's, Bergdorf & Goodman, Neiman Marcus, Barney's, Harvey Nichols e Harrolds. Tem duas pessoas para imprensa no Brasil (uma delas a presse de Montana, com 30 anos no ramo), duas para o comercial, uma diretora de maison, uma secretária, um assistente e doze constureiras contratadas. No Brasil, fechou o atelier que não tinha tempo de cuidar.
Na edição de janeiro, a conceituada "Harper's Bazaar", cita Versolato como um dos 21 novos a observar. Chegou às páginas de "Vogue" e "Elle" inglesas. Pelo que diz, todo mundo quer Versolato.
Confira agora as declarações sempre explosivas do estilista, em entrevista exclusiva em seu ateliê próximo ao centro Georges Pompidour.

Folha - Me disseram que você não está na programação oficial da Chabre esta temporada porque não tinham o horário que você queria.
Ocimar Versolato - Para eles o que importa são as grandes maisons. Existe uma hierarquia; quem entra por último tem menos a dizer. Fiz meu último desfile na terça à noite, quando todas as jornalistas americanas estavam fotografando as coleções. Todas me pediram depois um vídeo. Sai mais caro fazer vídeo pra todo mundo do que antecipar e fazer com que elas venham. A gente gasta um absurdo, seis meses de trabalho...
Folha - Quanto custa um desfile destes?
Versolato - Não faço idéia. Nem quero que mostrem as contas. Bem, daí me deram um dia bom, na segunda. Acontece que sou supersticioso e não desfilo em dia par. Eu não gosto de par. Meu ateliê é no terceirto andar, lado esquerdo, é sempre assim. Eles não acreditaram. Aí, mandei fax dizendo que eu ia desfilar no domingo, no meio de Lavin e Balanciaga, mas o que aconteceu é que as modelos todas preferiram fazer meu desfile. E agora já tem marcada uma reunião com a direção da Chambre... Quero desfilar num horário bom, em que todas as jornalistas estejam lá e as modelos sem olheira até aqui, a fim de fazer o desfile.
Folha - Qual a repercussão de seu último desfile?
Versolato - No meio da moda todo mundo fala de mim. Mas eu estou em meu terceiro desfile, para conseguir o público que eu consegui com um terceiro desfile em Paris é raríssimo. Tinha jornalistas de primeiro time, diretores de revista, 70 compradores —e este ano tem 140 compradores confirmados. Era a sala com mais gente importante por metro quadrado.
Folha - Em termos de criação, como está sua coleção em relação à anterior?
Versolato - Estou lançando a parte tailleur —blazers, mantôs—, completando a coleção. Acho que é a mais sofisticada que fiz até hoje. Estou avançando em coisas que não fiz, como vestidos de gala, toda essa parte super manual, de 50 metros de tecido por vestido...
Folha- Como está a questão do tratamento do tecido? Que materiais você usa?
Versolato - Sempre utilizei tecidos simples, mas desta vez mandei bordar musseline com chenille e a normal, para dar uma estrutura e um outro tipo de caimento; agora a musseline ficou dura. E desta vez aconteceu uma coisa: eu tinha na minha cabeça minhas vontades de moda. Daí fui ver uma exposição de pintura em Londres e estava tudo lá. Eu enlouqueci. Foi a primeira vez que eu tive uma referência. Mas nem quero que você coloque de quem é porque no Brasil eles são tão rápidos que vão copiar, lançar antes e falar que eu estou copiando eles... Mas é tudo baseado em preto, com um cuidadoso trabalho na luz do desfile para ressaltar a gama de cores.
Folha - E em termos de formas?
Versolato - Você conhece o Barón de Meyer (fotógrafo do início do século)? Mais ou menos isso.
Folha - Mas é meio romântico, não?
Versolato - É, mas do meu jeito (risos). Eu já provei que a técnica eu conheço. A próxima etapa que eu quis foi tirar qualquer vulgaridade da roupa. Quero fazer o máximo da elegância contemporânea, o que eu posso fazer para que as pessoas fiquem elegantes, a cereja do bolo.
Folha - O que você acha dessa definição de demi couture (entre o prêt-à-porter e alta-costura)?
Versolato - Acho perfeito. A gente tem que fazer o que sabe fazer. Eu não tenho nem a preocupação nem a pretensão de fazer nem prêt-à-porter nem alta-costura. A pessoa que está vendo que entenda como quiser e chame como quiser.
Folha - Quanto custa uma roupa sua?
Versolato - Não faço idéia (risos).
Folha - Quem põe os preços nas roupas então.
Versolato - A diretora da maison.
Ela me passa tudo, eu estou consciente, mas não gosto de falar de preço porque não corresponde à minha realidade. Se eu frequentasse os salões ou as casas das minhas clientes eu estaria fazendo o que o Valentino ou o Saint Laurent estão fazendo. Não tenho interesse nenhum em frequentar, pelo contrário. Outra coisa que eu detesto é saber quem está comprando a minha roupa. O que me interessa é que ela esteja bem exposta. Se a mulher é gorda, magra, se paga com cartão ou em dinheiro, é outro departamento.
Folha - Como você está vendo a moda no Brasil?
Versolato - Acho ótimo o que está contecendo. Mas uma coisa tem que ser clara: o mundo inteiro copia, não é só no Brasil. Mas as pessoas não têm essa pretensão que existe no Brasil. Se achar criador, copiando, aí é fogo. Coisa mais ridícula que eu escuto no Brasil é "Ah, mas eu já tinha feito antes...". Ah, me poupe! Isso é chamar a gente de idiota. Não pode se levar à sério. Se não, é Saint Laurent com 5 mil empregados. Enquanto a gente é assim, é pra se divertir, pra fazer o que gosta. É por isso que a gente faz moda.
Folha - Você tem visto alguma coisa que você gosta, em moda?
Versolato - Não. Todo mundo sempre me compara com alguém. Nas lojas eu divido sempre com o Galliano, com o Hervé Leger. O Hervé eu vejo porque é um amigo meu, o Galliano não conheço, nem sei o que faz. Acho ótimo toda essa mídia que deram pra ele, mas cada um tem a sua história, o seu tempo, o seu dia. Galliano está aí há 15 anos, eu estou na terceira coleção, não vou me comparar a ele. Se bem que as compradoras comparam. Mas, meu amor, daqui a 15 anos... Galliano começou em 82 copiando Comme des Garçons, agora tá fazendo anos 50. O trabalho que ele faz, pra mim, é de decorador. Agora, conhecer técnica de roupa...
O que importa pra mim é fazer roupa bem feita pelo preço de quem consegue fazer mal-feita. A roupa tem que ter qualidade.
Folha - O Hervé Leger (de quem Ocimar foi assitente) foi ver seu desfile. O que ele falou?
Versolato- (risos) Ele disse que adorou, está super contente com tudo o que está contecendo. Levou um susto com o meu público e disse: "o que me dá raiva é que tem idéia lá que eu podia ter feito antes de você, você foi mais rápido".

LEIA MAIS
sobre os desfiles de Paris no caderno Mundo.

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