São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 1995
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Os miçangueiros

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO — Já escrevi neste espaço que nada tenho de nacionalista. Pátria, para mim, é o lugar onde a gente se sente bem, podendo ou não ser o país em que se nasceu.
Nem por isso deixo de achar ridícula essa idéia do ministro Bresser Pereira de contratar o norte-americano David Osborne para fazer a reengenharia do Estado.
Parece, de novo, o encantamento da bugrada com as miçangas do colonizador.
Osborne pode até ser um gênio, pode ter escrito um livro de sucesso sobre o assunto, mas, na prática, quais são os resultados? Fácil: ele assessora o presidente Clinton na matéria. Clinton acaba de sofrer a maior tunda da história eleitoral norte-americana nos últimos 40 anos.
Claro que Osborne não é o culpado, mas seus se conselhos fossem mesmo tão bons assim, no mínimo a derrota teria sido menos humilhante, porque o público (que é quem interessa) estaria um pouquinho satisfeito com a reengenharia do Estado norte-americano.
Esse tipo de gênio da lâmpada surge de vez em quando e embasbaca os crédulos. Lembra de Lee Iacocca? Também parecia capaz de "reengenheirar" a empresa privada. Ninguém mais fala nele hoje em dia.
Depois de dois meses e meio da posse, já está mais do que na hora de parar de frescura e começar a governar. O ministro Bresser Pereira foi contratado para fazer a reforma do Estado e é pago para isso. Se não sabe fazer, demita-se e convoque-se Osborne. Pelo menos, só se paga um salário para a mesma função.
Agora, se for para continuar com frescura, tenho duas propostas melhores:
1) Contrate-se para o Banco Central um daqueles administradores de investimentos de Wall Street que apostaram na solidez do peso mexicano. São brilhantes em matéria de previsões cambiais.
2) Contrate-se, de preferência para a Presidência, aquele menino que quebrou o banco Barings. Esse sim é gênio. Pelo menos consegue quebrar alguma coisa, enquanto sucessivos governos brasileiros nem consertam nem quebram de uma vez. Ficam só no nhenhenhém.

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