São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
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Pesquisadora vê 'rotina perversa' de impunidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Para Nancy Cardia, coordenadora-interina do Centro de Estudos da Violência da USP, as chacinas no Brasil estão se tornando uma "rotina perversa". Segundo ela, raramente os culpados são identificados e punidos adequadamente.
"A coleta de dados em crimes desse tipo não é feita como deveria. Muitas vezes, o Judiciário diz que não pode levar o processo adiante devido a falhas em sua elaboração", disse.
Segundo Nancy, 47, as chacinas caem rapidamente no esquecimento e na impunidade. Ela diz que a população não se choca mais com a violência.
"As pessoas estão sofrendo uma deturpação de valores que não as deixa perceber que os indivíduos que matam são mais delinquentes que meninos que cometem delitos", afirmou.
O padre Júlio Lancellotti, 47, vigário episcopal do povo de rua da Arquidiocese de São Paulo, disse que as chacinas estão se repetindo "como sinal de violência e falta de controle da segurança pública".
Segundo ele, em alguns casos, as pessoas que tentam fazer justiça com as próprias mãos acabam tendo o apoio da própria polícia. "Isso encoraja as pessoas a tomarem atitudes violentas como essa", afirmou.
Lancellotti diz que nos casos de chacina "há omissão do aparelho policial". "O boletim de ocorrência omite informações importantes, que acabam prejudicando o inquérito e a punição dos culpados."
Celso Fontana, 37, um dos coordenadores do Movimento Nacional de Direitos Humanos, diz que as chacinas são "uma manifestação da política neoliberal adotada no país, em que uma parcela da população é considerada descartável, em especial se forem negros, mulatos ou pobres, enquanto outra consome telefones celulares e carros importados".

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