São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Por trás das vaias

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — O presidente Fernando Henrique Cardoso experimentou ontem no Rio a suprema humilhação para um homem público —em meio a vaias de manifestantes, saiu pelas portas do fundo. Esclarecimento: o que aconteceu não é, porém, um sinal de impopularidade. Mas revela as forças que se articulam contra a reforma constitucional.
Bobagem ficar imaginando que a manifestação concentrou basicamente populares inconformados com o governo. Na condição de ex-capital, o Rio hospeda fortes sindicatos de funcionários públicos, especialmente de estatais, presença marcante na CUT.
Compreensível: eles estão inconformados com as promessas de privatização e contenção dos gastos nas estatais. Uma das faixas, por exemplo, reclamava contra o fim da Legião Brasileira da Assistência (LBA), fonte de clientelismo, corrupção e incompetência.
A dúvida é saber até que ponto esses grupos conseguem influir na revisão constitucional. Há uma ampla pauta capaz de unir o funcionalismo estatal, temeroso de perder privilégios (os fundos de pensão, salário de insalubridade mesmo para quem trabalha em gabinete, estabilidade). Há até o aposentado desinformado com medo de perder direitos adquiridos.
Podem apostar: vai ser uma guerra. A CUT não vai ficar parada. Até porque recebe forte influência dos sindicatos de funcionários públicos, o que, óbvio, vai sensibilizar setores do Congresso.
É também uma oportunidade para que esses grupos coloquem a cara para fora e mostrem seus interesses —e, claro, os privilégios que estão defendendo. Por exemplo: as aposentadorias especiais.
PS — A chacina de crianças em São Paulo não é um fato isolado. Todos os números estão mostrando uma escalada da violência no Estado. A Polícia Militar voltou a ostentar sombrios índices de extermínio. Ficou pronto ontem relatório do Pro-Aim, da Prefeitura de São Paulo: no mês passado 412 pessoas foram assassinadas na cidade. É uma média de quase 15 por dia. Mário Covas corre o risco de virar a versão paulista de Leonel Brizola.

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