São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Místicos acreditam em 'geografia sagrada'

DA REPORTAGEM LOCAL

A escolha do sul de Minas como cenário esotérico nada tem a ver com a duplicação da rodovia Fernão Dias. A região estaria inscrita numa espécie de "geografia sagrada", dizem os crédulos. Seria um local eleito pelos homens para falar com o sobrenatural.
Médiuns, pregadores e discípulos se instalaram nos morros mineiros muito antes da especulação imobiliária agora atraída pelas obras da estrada.
Ainda hoje, visitantes buscam na região uma caverna que os levaria a Machu-Pichu.
"Desde os seus primórdios, os homens privilegiam lugares para seus contatos com o sobrenatural", diz Ricardo Mario Gonçalves, 54, professor de história antiga e história das religiões da USP. As religiões mudaram ao longo dos séculos, mas os lugares permaneceram sagrados.
Nesta "geografia esotérica sagrada" se incluiria também a cidade de Curitiba, onde desde o início do século está instalada uma comunidade neopitagórica. A Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz (Rosa Cruz Amorc) -uma instituição ocultista que se diz fundada pelos antigos egípcios- elegeu a cidade como subsede mundial.
Brasília é outra terra eleita. Seu projeto original reservou uma área para comunidades religiosas onde a camioneira Tia Neiva fundou o Vale do Amanhecer. Ali, grupos dizem receber mensagens sobre o fim dos tempos.
No início dos anos 80, o guru Luiz Escortecci de Paula anunciou os locais que seriam poupados pelas grandes inundações que em breve exterminariam o mundo. O sul de Minas estava no mapa.
"A especulação imobiliária que provocou e o fato de o mundo não ter acabado, deixaram o guru desacreditado", diz Eduardo Araia, editor da revista "Planeta".
O professor Eduardo Cunha Farias, 47, afirma que há muito modismo nesse meio. "Se surge alguém sério numa pequena cidade, outros se mudam para lá para aproveitar o filão."
Farias é professor de histologia e embriologia da USP e há 22 anos se dedica ao estudo dos anjos, a angeeologia. Segundo ele, de acordo com a "geografia esotérica", o lugar é sagrado quando há água ou rocha, na superfície ou no subsolo.
Ele esteve em São Tomé das Letras e não viu astral algum no lugar. "É um local horrível, feio", disse.
O antropólogo e professor da USP José Guilherme Magnani, 45, diz que não vê no esoterismo "simples modismo ou escapismo". "Eles estão buscando caminhos novos de forma autêntica."
Representam o "despertar para novas formas de espiritualidade, sem os dogmas estabelecidos, e onde se mistura práticas antigas com exercícios terapêuticos".

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