São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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França terá sua eleição mais disputada

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

A cinco semanas do primeiro turno da eleição presidencial, os franceses se preparam para o pleito mais equilibrado de sua história.
Dois candidatos de direita (o premiê Edouard Balladur e o prefeito de Paris, Jacques Chirac) e um de esquerda (o socialista Lionel Jospin) disputam uma vaga no segundo turno.
Os três lutam contra seus defeitos. Jospin tem que convencer o eleitor de que tem estatura de chefe de Estado. Balladur tenta se livrar da imagem de imobilidade que lhe grudou. E Chirac, da de eterno perdedor.
Segundo as pesquisas, se a eleição, marcada para 23 de abril, fosse hoje, Chirac e Jospin iriam ao segundo turno em 7 de maio.
Mas nada impede uma nova mudança. Quatro meses atrás, tudo parecia se resumir a um duelo entre Balladur e Jacques Delors.
Quando a direita venceu a eleição legislativa, em 1993, acreditava-se que o caminho estivesse pavimentado para Jacques Chirac chegar ao Palácio Eliseu dois anos depois.
Líder da RPR (Reunião pela República), o partido do governo, Chirac se deu ao luxo de deixar o cargo de primeiro-ministro a seu aliado Edouard Balladur.
Premiê de 1986 a 1988, Chirac queria evitar uma segunda coabitação com François Mitterrand. A primeira o fizera perder a eleição presidencial de 1988 para o próprio Mitterrand.
Ao longo de dois anos, porém, Balladur impôs seu nome aos poucos nas pesquisas como candidato. Boa parte do partido passou a apoiá-lo (a lei francesa não impede que o mesmo movimento tenha mais de um candidato).
O confronto entre os dois despertou o medo de uma vitória da esquerda, principalmente com a ascensão nas pesquisas de Jacques Delors, então presidente da Comissão Européia.
Delors, no entanto, anunciou em dezembro que não seria candidato, apontando razões pessoais (tem 69 anos) e políticas (não queria governar com um Parlamento dominado pela direita).
A desistência de Delors lançou a esquerda no desespero e atiçou a luta fratricida entre Chirac e Balladur, que se sentiram livres da ameaça socialista.
Chirac adotou um discurso mais à esquerda, enquanto atacava o "imobilismo" de Balladur, sem nunca citar o nome do ex-aliado. Líder nas pesquisas, o premiê evitava se lançar na campanha.
Atacado de todos os lados e desgastado por acusações de corrupção contra membros de seu governo, como o ministro do Interior, Charles Pasqua, Balladur começou a ceder terreno nas pesquisas de intenção de voto.
Os socialistas, enquanto isso, organizaram às pressas uma eleição primária e elegeram como candidato o ex-ministro da Educação Lionel Jospin. Legitimado pela primária, Jospin subiu rapidamente ao segundo lugar.
Como resultado, os três têm chances de vitória. Hoje, no entanto, Jospin perderia no segundo turno tanto para Chirac quanto para Balladur.

Temas
Os problemas internos da França têm dominado o debate entre os candidatos. A luta contra o desemprego, em torno de 12,5% da população ativa, é uma obsessão dos franceses.
A política externa tem sido evitada pelos pretendentes à Presidência e, em especial, dois temas: a integração européia e os conflitos no planeta.
No governo, socialistas e conservadores se mostraram incapazes de encontrar uma solução para a guerra na ex-Iugoslávia. Nas crises em Ruanda e na Argélia, a França também se mostrou impotente.
O avanço da União Européia, especialmente o fim das fronteiras e a união monetária, ainda tem ferrenhos inimigos na França.
A extrema direita vê na UE o fim da soberania da França. A extrema esquerda a considera uma vitória do capitalismo.
Chirac, Jospin e Balladur são favoráveis à UE, mas abordam o tema com cautela.
Jacques Chirac chegou a falar em um novo plebiscito sobre a união monetária, mas voltou atrás e fez uma defesa firme da Europa esta semana.

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