São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O grupo Planet Hemp lança seu primeiro disco e aquece a questão da descriminalização da maconha

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você ouvir o grito "Legalize Já" tocando no rádio não se espante. Essa é a música-chave do disco "Usuário", da banda de rap carioca Planet Hemp.
Como já deu para perceber, eles são a favor da legalização da maconha. Mas o trabalho dos caras é mais que isso. Eles misturam letras cantadas em ritmo de rap com guitarras pesadas e batuques de samba.
A Folha conversou com Marcelo D2 e Bnegão (vocalistas), Bacalhau (bateria), Rafael (guitarra) e Formiga (baixo) sobre rap, drogas e o disco, que vai ser lançado em abril pela Sony.

Folha — Por que vocês falam tanto em legalização da maconha?
Marcelo — Nós falamos da nossa realidade, do que a gente faz. Mas isso é uma opinião nossa. Não queremos ser cabeça de movimento nenhum de legalização. A gente quer que legalize, mas a gente não carrega bandeira nenhuma.
Folha — Mas qual é a opinião de vocês sobre o assunto?
Marcelo — No Rio de Janeiro morrem no mínimo seis pessoas por dia por causa do tráfico. Isso tem que acabar. O governo tem que tomar conta, vender por um preço barato e fazer campanha como faz com o cigarro. Álcool faz muito mais mal que maconha, só que a indústria do álcool dá muita grana. O que não é certo é um jovem que fuma maconha levar dura da polícia.
Folha — Vocês já tiveram contato com a indústria do tráfico no Rio?
Marcelo — Eu morei até os 14 anos no morro do Andaraí e quando era criança cheguei a fazer "pequenos trabalhos" para os traficantes. Só que mudei para o asfalto e saí dessa. Quase todos os meus camaradas da época morreram. O único que não morreu está preso.
Folha — Falando um pouco de som. O Planet é um grupo de rap?
Rafael — Não, é uma banda de rock.
Marcelo — Na verdade são duas bandas. Uma é de rock e outra é de rap. Só que a gente juntou e deu nisso.
Folha — O pessoal do rap aceitou bem essa mistura?
Marcelo — Não, eles achavam que a gente estava deturpando o movimento. Achavam um absurdo uma banda misturar rap com guitarra e bateria. Quem apoiou foi o pessoal do rock.
Folha — Deve ter sido difícil para a banda sobreviver após a morte do Skunk (vocalista da banda que morreu em junho do ano passado de Aids)...
Bnegão — A gente nem gosta de falar nisso. Ele era quase meu irmão. A banda quase acabou na época. A gente não conseguia pensar em nada.
Marcelo — Não dá para falar nisso sem ter vontade de chorar. Esse disco é em homenagem a ele. O Skunk era nosso amigo, era um cara cheio de vida. É bom deixar isso claro: ele morreu porque transou sem camisinha. Que sirva de lição. Gente, não transe sem camisinha!

Texto Anterior: Bicampeã tem 15 anos e começou aos 5
Próximo Texto: O conceito de dance music é elástico e difícil de entender
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.