São Paulo, terça-feira, 21 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A oferta de laranja

ANTONIO AMBRÓSIO AMARO

No momento em que se inicia novo ano comercial para a laranja fresca ou de mesa, não se pode deixar de fazer alguns comentários a respeito da importância do mercado interno brasileiro, uma vez que a fruta paulista abastece a maioria dos Estados, competindo com as produções regionais.
Em 1994, com a redução da ordem de 9% na colheita de laranja no Brasil em relação ao recorde de 374 milhões de caixas (40,8 kg) no ano anterior, pode-se estimar, ainda em caráter preliminar, que tenham sido destinadas ao mercado interno brasileiro entre 95 e 100 milhões de caixas.
Destas, 43 milhões foram provenientes da produção de São Paulo, avaliada em 275 milhões de caixas, ou seja uma queda de 11% em comparação com a de 1993, quando se estima que tenham sido absorvidas para consumo fresco cerca de 65 milhões (21%) de caixas das 307 milhões produzidas.
Vale destacar que na primeira estimativa de safra (novembro de 1993), a produção para 1994 foi avaliada em 303 milhões de caixas, tendo sido reduzida posteriormente (levantamento de junho de 1994) para 296 milhões de caixas.
Com as geadas e a prolongada seca que ocorreram em São Paulo, as perdas foram calculadas entre 21 e 28 milhões de caixas.
Além disto, houve redução na qualidade das frutas, uma vez que em determinado período (particularmente em fins de outubro) elas se mostravam murchas e sem condições de suportar beneficiamento, transporte e vendas até o consumidor final.
Vale lembrar que com o Plano Real houve uma melhoria no poder aquisitivo da população, mais sentida na área de alimentação a partir de setembro e outubro do ano passado.
Como consequência, com a redução nas quantidade ofertada em algumas semanas, os preços da laranja se elevaram, restringindo o consumo.
Logo a seguir, houve aumento nas quantidades enviadas ao mercado atacadista e os preços voltaram a cair, recomeçando o ciclo para ampliar o consumo.
Estudo mais apurado a respeito dos fluxos e quantidade de laranja comercializada no mercado interno encontra-se em andamento.
Observe-se que, em São Paulo, uma parcela crescente da comercialização é feita diretamente dos pomares para os varejistas, sem passar pelos mercados atacadistas ou terminais.
Parte da laranja paulista transacionada em algumas Ceasas passa antes por "packing-houses" (barracão de beneficiamento e embalagem) em outros Estados, sendo misturada com a produção local, o que acaba por mascarar a origem.
Para 95, em razão da seca que no ano passado causou graves prejuízos aos pomares em São Paulo, acreditava-se, a princípio, que a produção deveria sofrer queda significativa, particularmente com a perda da florada de setembro.
Entretanto, as informações obtidas até agora dão conta de que os pomares das variedades natal e valência, que representam cerca de 40% dos pés, se mostram com boa produtividade, enquanto que os de pera e de variedades precoces estão mais prejudicados.
Um primeiro levantamento, que normalmente contempla margem de risco maior na avaliação, indicou produção em São Paulo da ordem de 285 milhões de caixas, ou seja apenas 3,6% maior que a estimativa final para 1994, quando se registrou um resultado muito ruim, decorrente das perdas provocadas pelas sérias adversidades climáticas.
Todavia, se comparada com as estimativas realizadas em novembro de 1993 e junho de 1994, a tendência é de redução (entre 4% e 6%).
Potencialmente, a se julgar pelo número total de pés em produção, a previsão da colheita poderia ser melhor que aquela esperada no momento.
Do ponto de vista comercial, admitindo-se que a industrialização absorva as mesmas 230 milhões de caixas estimadas para 1993 e 1994 (com a demanda aquecida pelo poder de compra dos consumidores e com o aumento nas vendas de suco pronto para beber), é muito provável que os citricultores poderão voltar a receber melhores preços pela laranja.
Também deverá contribuir para essa situação no mercado, a significativa perda (cerca de 30% do total) na produção de banana em virtude das enchentes no Vale do Ribeira, principal região produtora no Estado de São Paulo.
Outro fato que poderá fortalecer essa perspectiva é a forte quebra prevista na produção de laranja no Sergipe e norte da Bahia, devido à prolongada seca que vem afetando a região, o que prejudicará o suprimento da fruta em vários mercados do Norte e Nordeste, a partir de Salvador.

Texto Anterior: Recorde nos EUA; Incremento; Crescimento ajuda; Clima no campo; Pelo micro; Previsão; Tudo pelo cacau; Pedido aos bancos; Incentivo ao milho; Canadá em Londrina; Custo informatizado; Auxílio na escolha; Santos quer mais; Vagões de açúcar; Insatisfeitos; TR sobe; Proálcool
Próximo Texto: Custo de empréstimo do exterior será alto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.