São Paulo, terça-feira, 21 de março de 1995
Próximo Texto | Índice

Agitação volta ao mercado

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro voltou a operar ontem sob um clima de grande inquietação por causa de rumores sobre mudanças na política cambial e na equipe econômica.
O dólar comercial fechou em alta de 1,45%, cotado a R$ 0,91 para venda, a taxa de juros do CDB subiu para 81,90% ao ano (5,11% ao mês) e as Bolsas de Valores fecharam com baixas de 3,7% em São Paulo e 3,8% no Rio.
A agitação do mercado começou no início dos negócios, com a notícia divulgada pela "Agência Dinheiro Vivo" de que o governo já teria decidido demitir o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco.
O clima de inquietação aumentou a partir das 12h08m, quando a Reuter, agência de notícias inglesa, divulgou um telegrama informando que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, teria afirmado em Frankfurt, na Alemanha, que os limites —mínimo de R$ 0,88 e máximo de R$ 0,93— da "banda" de flutuação do câmbio seriam alterados quando fosse necessário.
O enviado especial da Folha a Frankfurt, André Fontenelle, informa que o ministro realmente afirmou que a banda não é fixa, mas ressalvou que a atual irá durar "muito tempo".
O dólar comercial chegou a ser cotado a R$ 0,92, mas nenhum negócio foi fechado a esse preço.
Segundo Cláudio Lellis, diretor de tesouraria do Lloyds Bank, esses boatos repercutiram intensamente num mercado extremamente inseguro com os rumos da política econômica, em função das divergências internas na equipe econômica do governo FHC.
"Falta dólar no mercado", afirmou Lellis, afirmando que os vendedores da moeda estão retraídos, enquanto as compras estão sendo antecipadas por quem precisa fazer remessas ao exterior.
A incerteza sobre a política cambial aumentou ontem depois que a cotação do dólar comercial ultrapassou a marca de R$ 0,905 —o ponto médio da "banda"— e o BC não interveio.
Com isso, a interpretação de uma parcela do mercado foi de que o governo não fará intervenções no interior da "banda", apenas nos seus limites superior (R$ 0,93) e inferior (R$ 0,88).
Isso derrubou a tese de uma desvalorização gradual do real frente ao dólar até chegar a R$ 0,93 no fim de abril. A desvalorização neste mês é de 7,18%.
"A cada dia, a escassez de dólares no mercado aumenta, com a manutenção de um saldo negativo acima de US$ 100 milhões nas contratações de câmbio, e a tendência é de que a cotação atinja rapidamente os R$ 0,93", afirma Geraldo Carbone, vice-presidente do Banco de Boston.
Os dados divulgados ontem pelo BC mostram uma saída líquida (entradas menos remessas) de US$ 124 milhões na sexta-feira.

LEIA MAIS
sobre declarações do ministro Pedro Malan à pág. 2-3

Próximo Texto: Novo fórum; Quem representa; Base questionada; Seguro particular; Ganho operacional; Prêmio cortado; Patrimônio a valorizar; Na sociedade; Chapa única; Fora das ruas; Longe do campo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.