São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Ora veja

JANIO DE FREITAS

Todo mundo sabe: com a fortuna que acumulei e movimento, não tenho tempo para pequenos investimentos como a possível compra, em 83, que a "Veja-Rio" me atribui, do jornal carioca "O Dia" por US$ 1,6 milhão. Negocinhos deste porte são para minimilionários —Roberto Marinho, por exemplo, que a revista põe como meu concorrente nas preferências do vendedor, o ex-deputado e ex-governador Chagas Freitas.
Dotado de percepção extra-sensorial, o repórter da "Vejinha" captou, além da oferta de Chagas para que eu comprasse o jornal, que "há remorsos até do jornalista Janio de Freitas, que também duvidou do preço e fugiu do negócio". Em compensação, a revista e seu repórter fugiram da veracidade devida. Se Chagas Freitas me oferecesse o jornal, é porque havia perdido a razão, como hoje pretendem seus herdeiros. Não me deu, no entanto, esta oportunidade de juntar mais um aos meus tantos arrependimentos.
Não sei o que sobra de verdade, se sobra alguma, na investida impressa e judicial que os herdeiros movem contra a venda de "O Dia", 12 anos depois de realizada, e, sobretudo, contra a memória do seu patriarca. Chagas Freitas, na verdade, sentia-se próximo do fim e considerava-se sem herdeiros habilitados a assumir e recuperar o jornal decadente. Receava que levassem a empresa a arruinar o restante do vasto patrimônio que deixaria. Escolheu o amigo a quem desejava passar o jornal: José Luiz Magalhães Lins, que não quis fazer a compra. Chagas pediu-lhe para levar a mesma oferta a Roberto Marinho, que pressentiu acusações de monopolização e não quis a compra. O seguinte na lista foi Ary de Carvalho, então dono da "Última Hora". O negócio foi feito, enfim. E estes são os fatos de que tomei conhecimento na época e os únicos que sei verdadeiros. O resto da história divulgada exala forte odor de maldades e injúrias, para dar a venda como ato de desequilíbrio mental.
Aproveito para anunciar meu próximo alvo de investimento: a compra da "Vejinha" por US$ 1,6 milhões — desde que a "Vejona" venha de quebra.

Efeméride
A recente eleição do deputado Wilson Campos para a primeira-secretaria da Câmara ocorre quando se completam 20 anos da sua cassação pelo general Geisel. Acusado de corrupção, como pivô de um megaescândalo em torno de transações financeiras em Pernambuco. Hoje é do PSDB.

Privilegiado
Durante palestra para deputados do PTB, o ministro Reinhold Stephanes disse que sou profissional desonesto, por ter escrito que sua aposentadoria se deu aos 46 anos de idade e com 22 de serviço público no Paraná.
Quanto à honestidade, a minha e a de quem quer que seja, não é autorizado para avaliá-la quem inclui, em projeto de emenda constitucional, um artigo maroto que o favorece, privilegiando-o com a acumulação de aposentadoria e vencimentos que o projeto retira aos funcionários em geral.
Quanto a sua aposentadoria, é simples: exiba o ministro as contas que compuseram o seu alegado tempo de serviço para aposentadoria.

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