São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Brasil está uma década atrasado, diz médico

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O programa de troca de seringas para usuário de drogas chega ao Brasil com quase uma década de atraso. "Centenas de vidas poderiam ter sido salvas", diz o médico Fábio Mesquita.
Em 1989, ele fazia parte da equipe que tentou colocar em prática um programa semelhante em Santos. Foi barrado pela Justiça. (veja texto nesta página).
A Bahia, que agora está saindo na frente, tem menos de 3% dos casos de Aids no país. São Paulo, que ainda não assumiu o problema, tem quase 60% dos doentes. Ontem Mesquita embarcou para Florença (Itália), onde participa de uma conferência internacional sobre "redução de danos" da droga. A principal preocupação do encontro, promovido pela ONU (Organização das Nações Unidas), é justamente diminuir o número de infectados pelo HIV entre dependentes.
"A Aids hoje preocupa mais que a dependência e a overdose", diz Mesquita. O trabalho que apresentará em Florença fala justamente da "timidez" e "lentidão" do Ministério da Saúde.
Em 93 —quando Mesquita estava no ministério— o governo fechou um convênio de prevenção com o Banco Mundial onde 15 projetos de trocas seriam desenvolvidos."Tudo foi engavetado."
A troca de seringas vem sendo discutida na comunidade científica desde 92. No próximo mês, de 24 a 28 de abril, será um dos temas dos congressos de epidemiologia que acontecem em Salvador.
Ao longo desse ano, o ministério e as Nações Unidas pretendem iniciar projetos semelhantes em outras quatro cidades do país.
Na Austrália, onde o governo oferece seringas desde meados de 80, o índice de infectados entre usuários de drogas é de 2%. Na Holanda, é abaixo de 10%. Nos EUA, há dezenas de programas.
"Nenhum deles provocou aumento do número de usuários", afirma Mesquita.

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