São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Xamã andino lidera ritual ecológico em praça de SP

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

No lugar de namorados e carros embaçados, a praça do Pôr do Sol teve ontem flautas e bumbos andinos, incenso, um xamã e cerca de 150 admiradores e curiosos em um ritual ecológico pela cura da Terra.
O xamã é o boliviano Luiz Espinoza, 35, ou Chamalu, seu nome espiritual, que está no Brasil para um ciclo de palestras nas quais ensina "sabedoria inca".
Espinoza veio também divulgar sua "Peregrinação Cerimonial de Cura da Terra", que sai pelo mundo no começo de 1996. Juntou estudantes da USP, profissionais liberais e místicos em geral. Aproveitou e lançou seu primeiro livro no Brasil (tem outros 11), "O Oráculo Solar" (Editora Record, 140 págs., R$ 12,00).
O público se embalou, abraçou e beijou nos passos de biodança, ao som de hits dos anos 60 ("Blowing in the wind") e música folclórica dos índios dos Andes. Recolheram o lixo da praça e dançaram numa "mandala", uma instalação do artista ambiental Paulo Pitombo, 36, que representava o sol e era feita de lixo.
Durante a cerimônia, os participantes punham a mão no coração para sentir a "Terra viva" dentro deles. Enquanto isso, eram incensados por uma moça, assistiam a uma outra dançar de joelhos com uma flor na mão e ouviam o "pulsar do coração da Terra" —um bumbo tocado por uma terceira garota. Calado, Espinoza manipulava um raminho de incensos acesos.
Ariscas à conversa, as bonitas assistentes do xamã, quatro bolivianas e uma brasileira, vestiam minis, tops e ponchos bolivianos/peruanos. Moram com Espinoza e outras 50 pessoas na comunidade Janajpacha, perto de Cochabamba (Bolívia). Dizem que vivem dos cursos que dão e que não aceitam subvenções.
Espinoza, que se diz índio quíchua, é o líder visível do Movimento Pachamama Universal, que mantém uma escola. Ele é o líder visível porque há os invisíveis -sábios que não se mostram para os brancos e que ensinam Espinoza.
Na escola, o xamã ensina as pessoas a encontrarem seu "índio interior", uma atitude esquecida pela civilização ocidental e que significa recusa do consumismo, busca de simplicidade, inocência e consciência ecológica.
Um xamã cura, prevê o futuro e é alguém por meio do qual falam os espíritos. Os incas constituíam um império até a chegada dos espanhóis na América. Habitavam o Peru, Equador, Bolívia e norte da Argentina e Chile. Os quíchua eram um dos povos incas; o quíchua foi a língua geral do império.
Espinoza diz que nasceu numa família de índios aculturados. Abandonou a universidade e militou contra regimes militares em seu país. Depois de sua "iniciação" viajou como mendigo pela Europa para conhecer os problemas da civilização ocidental.

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