São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Arida diz que BC lucrou na crise cambial

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento no Senado, o presidente do BC (Banco Central), Pérsio Arida, disse ontem que a instituição teve um lucro de R$ 82 milhões com o terremoto provocado, há duas semanas, pelas alterações na política cambial.
Arida deixou de mencionar, porém, que o país perdeu cerca de US$ 2 bilhões de reservas, segundo estimativas.
Nenhum parlamentar pediu detalhes nos números apresentados.
Deixou-se de perguntar a Arida sobre suas próprias declarações a respeito de supostas irregularidades cometidas pelos "dealers" —20 bancos que atuam em nome do BC no mercado de câmbio.
Durante a crise, Arida havia admitido erros na divulgação das alterações cambiais. Ontem, preferiu culpar "a imprensa e alguns particulares" pelas turbulências.
Arida não apresentou em seu depoimento os valores das operações de cada banco na semana de mudança no câmbio, alegando sigilo bancário.
O presidente do BC disse ainda que a confusão gerada no mercado —causada por "insinuações" veiculadas pelos jornais— produziu prejuízos para a imagem dele próprio, do BC e do país.
Há duas semanas, o deputado Delfim Netto (PPR-SP) declarou que houve vazamento de informações privilegiadas para instituições do mercado financeiro. Ontem, Delfim estava em Brasília mas não compareceu ao depoimento.
Segundo a Folha apurou, o lucro de R$ 82 milhões a que se referiu ontem Arida decorre da compra feita pelo BC, no último dia 10, de cerca de US$ 1,6 bilhão à taxa de R$ 0,88.
Estes dólares tinham sido vendidos, nos dias de crise, a R$ 0,90.
Arida informou também aos senadores que o BC impôs a cada banco que "especulou" com dólar um prejuízo de cerca de US$ 500 mil. Segundo ele, somente dois bancos teriam tido lucro. Ele não revelou os nomes das instituições.
O presidente do BC levou à comissão cinco dos seis diretores de sua equipe, incluindo o diretor de Assuntos Internacionais, Gustavo Franco, com quem diverge sobre o câmbio. O presidente do BC negou que haja disputa por poder dentro da equipe.
A estratégia utilizada no depoimento foi combinada na noite de anteontem, em reunião de Arida e Franco com o presidente Fernando Henrique Cardoso.

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