São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O Diário de um Mago" chega ao teatro

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Quando a peça "O Diário de um Mago" estrear amanhã, um convidado ilustre estará sentado numa poltrona para ele reservada na primeira fileira do Teatro Gazeta. O deus Ratma, que viveu há 3.000 anos na Grécia é o "consultor espiritual" da peça.
"Conheci ele no avião, na minha volta da peregrinação de Santiago de Compostela, foi através de um engenheiro brasileiro que costuma encarná-lo", diz o diretor Paulo Trevisan.
Trevisan entrou de corpo e alma no projeto. Depois de ler o livro de Paulo Coelho e esboçar uma adaptação, ele fez a peregrinação a Santiago de Compostela e filmou-a. Esta gravação é o pano de fundo do espetáculo, projetado na tela do velho cine Gazeta.
"O Diário de Um Mago" é um espetáculo multimídia por acaso. "Nunca dirigi teatro, só sei responder as coisas com linguagem de TV, fica um clima de videoclipe mesmo", diz o diretor.
O cenário representa um caminho, cheio de cascalhos e areia. Além da superposição das imagens, a da encenação e a da projeção, o espetáculo justapõe diferentes planos de tempo e de narrativa.
"A idéia é relacionar o caminho físico e concreto com a trilha espiritual", diz Trevisan.
O diretor deixou a equipe de produção da Rede Globo para realizar este trabalho. Nos seus 32 dias como andarilho, seguindo a trilha do mago, ele diz ter descoberto que o livro é uma ficção.
"A verdade é mais crua e mais intensa. Muito do que Coelho descreve é ficcional, como os demônios", diz.
Ele conheceu o personagem Javier, que no livro de Coelho é um bruxo. "Na verdade ele é só um padre, um cura da província e vive se perguntando por que o escritor o definiu assim."
Para expor seu objetivo para o elenco, Trevisan diz ter feito um verdadeiro trabalho espiritual. "Tive que convencê-los a encarar os papéis de forma diferente, não como meros profissionais."
Os artistas se dizem envolvidos na missão de mostrar que os sacrifícios podem ser trocados pelas poltronas vermelhas da platéia.
"Vamos mostrar que ninguém precisa viajar, passar frio e fome para fazer a peregrinação, ela acontece dentro das pessoas", diz Jayme Periard, que interpreta o guia Petrus.
O eterno malandro das novelas globais, João Signorelli, muda radicalmente seu padrão de interpretação. Agora ele é o próprio Paulo Coelho. "Fui até as trevas e voltei, sou outra pessoa depois de encarar este personagem, aprendi a dizer não", diz ele.
O escritor assistiu a um ensaio da peça e conversou com atores e diretor. "Minha interpretação dele é uma leitura muito íntima, mas ele me deu grandes toques", diz Signorelli. "É uma honra ele ter permitido que eu fizesse a adaptação, ele recebe propostas todos os dias e recusa", diz Trevisan.
Os atores se dizem preparados para receber os ataques da crítica. "Paulo Coelho é amado pelo público e criticado pela mídia. Quero só que as pessoas gostem", diz Suzy Rego. Jayme Periard acha que a crítica não pode destruir um espetáculo. "Ela não tem competência para isso", diz.

Peça: O Diário de Um Mago
Com: Jayme Periard, João Signorelli, Suzy Rego, Antônio Abujamra
Onde: teatro Gazeta (av. Paulista, 900, tel. 253-4322)
Quando: qui e sex às 21h, sáb às 19h e 22h e dom às 19h
Quanto: R$ 10,00 e R$ 5,00

Texto Anterior: Homem deve lutar contra o inaceitável
Próximo Texto: Cohen estréia novo Steinway do Municipal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.