São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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'Corruptos' tem toque do gênio

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Há pouco tempo, Claude Chabrol dizia que toda a defesa de Fritz Lang feita pelos "Cahiers du Cinéma" tinha uma parte de farsa. Todos sabiam que na fase alemã (até 1933), o diretor tinha um prestígio e uma liberdade que nunca chegou a atingir nos EUA. inclusive em "Os Corruptos" (Globo, 1h).
"Mas diziam coisas tão absurdas a seu respeito, que radicalizamos a defesa", disse Chabrol. Nessa radicalização, chegou-se a dizer que "M, o Vampiro de Dusseldorf" (1931) era o pior filme do alemão.
Chabrol manifestou curiosidade em saber o que Lang faria se tivesse, nos EUA, o mesmo apoio que tinha na Alemanha. Mas, mesmo não tendo à montagem final de seus filmes, Lang quase sempre espanta pela precisão.
E pela evolução. Na história, Glenn Ford é um policial que tem a mulher assassinada (quando quem devia morrer era ele). Ford suspeita da própria polícia; a investigação empaca; ele larga a tropa para melhor se ocupar do caso.
É nesse tumulto, nesse inferno tão languiano, que aparece Gloria Grahame, a vilã. Em dado momento, ela terá uma metade do rosto desfigurada. E, aos poucos, mudará sua atitude. Esse episódio particular no meio do filme, atesta o desenvolvimento particular de Lang.
Grahame representa, aqui, a mesma dualidade da personagem Maria, de "Metrópolis". Mas agora, em vez de dividir a personagem em dois, divide o seu rosto, inscrevendo nele a beleza e o horror de sua condição. É achado de um mestre entre os mestres. Valeria o filme. Ele vale por muitas outras coisas.(IA)

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