São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Argentina diz que não tem lista de mortos

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino reconheceu pela primeira vez que existiram listas de desaparecidos durante a ditadura militar.
O ministro do Interior, Carlos Corach, disse que as listas foram "destruídas" pelos militares.
"O Partido Justicialista (que sustenta o governo Menem) foi o que mais perdeu membros no processo militar. Não seremos nós que vamos facilitar a transformação de vítimas em algozes", completou Corach.
Na segunda-feira, o presidente Carlos Menem recebeu ofício da Justiça Federal exigindo a lista dos desaparecidos na Esma (Escola de Mecânica da Armada) que foram lançados vivos ao mar a partir de aviões da Marinha.
A Justiça tem informações sobre existência de listas microfilmadas, de acordo com denúncia do capitão-de-corveta reformado Adolfo Scilingo.
Ele mesmo afirma ter participado de operações da Esma para eliminar presos políticos.
Corach usou documentos da Comissão Nacional de Desaparecimento de Pessoas, criada no governo Raúl Alfonsín (1983-1989), para afirmar que não há mais documentos ou registros sobre presos mortos pelo regime militar.
Até agora, o ministro da Defesa, Oscar Camilión, recusa-se a debater com o Congresso Nacional a questão do desaparecidos.
O juiz federal Juan Pedro Cortelezzi disse ontem que os militares não podem mais ser julgados por causa dos indultos ocorridos durante o governo Alfonsín.
Cortelezzi foi um dos votos favoráveis à solicitação da lista de desaparecidos da Esma.
Segundo ele, mesmo que os militares não possam mais ser julgados, não há nenhum obstáculo legal para que a Justiça exija a divulgação da lista.
A medida da Justiça Federal argentina é inédita até agora. Desde 1984, quando se iniciou o processo de investigação das violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar, a Justiça ainda não havia exigido lista de desaparecidos.
O presidente do Centro de Estudos Legais e Sociais, Emilio Mignone, afirmou ontem que "a soma dos testemunhos de pessoas que participaram da ditadura militar poderia tornar possível a elaboração de uma lista definitiva de desaparecidos".

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