São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
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Empresários criticam política salarial

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários e trabalhadores criticaram duramente o governo ontem pelo modo como vem conduzindo a questão salarial no país e defenderam a livre negociação como política para reajustes.
O ministro do Trabalho, Paulo Paiva, em reunião com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse temer que a ausência de uma política salarial oficial abra espaço para a reindexação da economia.
O presidente da Fiesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, reconheceu que "algumas poucas empresas" já estão usando gatilhos salariais como forma de indexar os salários.
Paiva disse que o governo ainda não tem proposta fechada para os salários. "Estamos apenas discutindo. O ideal é ter a livre negociação no futuro, mas no momento a prioridade é a estabilização e o fim da indexação".
A política salarial em vigor prevê reajustes pelo IPC-r nas datas-base de cada categoria. A regra é válida até 30 de junho, quando o governo poderá alterá-la.
Criticando a intenção do governo de criar uma nova política a partir do segundo semestre, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mario Amato, disse que o governo "não deve se meter em política salarial. Deveria era estar preocupado em enxugar sua máquina no lugar de mexer em um assunto que acaba sempre perturbando e criando problemas".
"Se o governo oficializa determinada política salarial, nos dá autoridade para repassar os aumentos aos preços", diz Amato.
Heiguiberto Guiba Della Bella Navarro, presidente do Sindicato dos Metalúgicos do ABCD (CUT), disse que o governo "já está criando problemas demais ao se meter" na política salarial.
Guiba também defende a livre negociação desde que os trabalhadores tenham a reposição da inflação nas datas-base.
Luiz Adelar Scheuer, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), afirma que "o governo deveria estar se ocupando com coisas mais importantes" e defendeu a livre negociação.
O diretor do Departamento de Relações Intersindicais da Fiesp, Roberto Ferraiuolo, afirma que "não seria saudável" uma nova política oficial.

Teste
Enquanto os empresários defendiam a livre negociação na Fiesp, ela era testada na prática entre metalúrgicos e empresas do Estado de São Paulo na sede da Anfavea.
Representando 350 mil trabalhadores do Estado, o presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT, Paulo Sergio Alves, apresentou pedido de reajuste de 21,58% para o ABCD (10,53% de IPC-r mais aumento real de 10%) e 29,93% para os do interior (IPC-r, mais 10% real e 6,87% em perdas passadas). A data-base é 1º de abril.
"O pedido de aumento dos metalúrgicos nesta negociação está fugindo da realidade do Plano Real", disse Antonio de Alcântara, presidente da Comissão de Negociação da Anfavea.
Em resposta à posição da Anfavea, Sergio Alves afirmou que "greves são sempre uma possibilidade de pressão" nestes casos.
Alves disse ainda que "não abrirá mão" de reposições mensais dos salários.

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