São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
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Callas e Benjamin Britten são os destaques de novo pacote da EMI

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A EMI está lançando um novo pacote de música erudita. Os destaques são gravações históricas de Maria Callas e Benjamin Britten e uma versão premiada das sonatas para piano de Beethoven.
Callas está presente numa gravação ao vivo da ópera "Macbeth", de Verdi, feita em 1952. A ópera nunca satisfez completamente seu autor, que, mesmo realizando revisões na partitura, não conseguiu atingir o nível de Otello e Falstaff, suas outras óperas com argumento shakespeariano.
Mas o disco é essencial, até porque Callas nunca gravou "Macbeth" em estúdio. Como Lady Macbeth, ela é plenamente convincente —até porque não é preciso muito para levar o abúlico Macbeth de Enzo Mascherini ao crime.
Além do barítono, que interpreta o personagem título, o som também deixa a desejar.
Outro destaque do pacote é a gravação das óperas "The Rape of Lucretia" (integral) e "Peter Grimes" (cenas), e de arranjos para canções folclóricas inglesas e francesas de Britten.
Em nosso século, Benjamim Britten (1913-1976) foi a maior personalidade musical do Reino Unido e um dos maiores compositores de ópera de qualquer nacionalidade.
O CD duplo mostra a evolução de Britten. "Peter Grimes", sua primeira ópera, mais convencional, foi feita para grande orquestra. Já na posterior "The Rape of Lucretia", o autor prefere utilizar uma pequena orquestra de câmara.
A série "British Composers" traz também um CD com a cantata "Dona nobis pacem" e o oratório "Sancta Civitas", de Ralph Vaughan Williams (1872-1958).
O lançamento de um disco de música sacra tem cheiro de oportunismo. A gravadora parece querer aproveitar a onda neocarola que inunda as lojas com CDs de Górecki, Pãrt, Taverner e quejandos.
Embora soe como um precursor desta turma toda, Vaughan Williams ao menos teve o bom gosto de juntar às Sagradas Escrituras textos do poeta Walt Whitman.
À frente da London Symphony Orchestra, o maestro Richard Hickox consegue valorizar as peças, realizando uma leitura pungente.
Mas boa mesmo é a gravação das sonatas nº 24, 21 ("Waldstein") e 31 de Beethoven, feita pelo pianista Stephen Kovacevich.
O mercado está cheio de gravações conceituadas de sonatas de Beethoven —de Schnabel a Brendel, passando pelo reverenciado Kempf, a opção econômica Jandó e o esquisito piano de época de Badura-Skoda.
Mesmo assim, esta é especial. Não é à toa que ganhou prêmios em 94. É difícil imaginar uma "Waldstein" melhor do que esta.
Menos feliz é a versão de Sarah Chang do "Concerto nº 1" de Paganini. Aos 13 anos, a violinista Chang toca uma peça ultra-virtuosística adequada à sua idade. O que não casa muito bem é a regência de Wolfgang Sawallisch.
Excelente em compositores alemães, Sawallisch, à frente da Orquestra de Filadélfia, faz a peça soar como Marx Bruch. Leve e superficial, o concerto fica pesado.
Nas obras de Saint-Sa‰ns que completam o disco ("Hayanaise" e "Introdução e Rondo Capriccioso"), ocorre o inverso: a orquestra é mais adequada que a solista.
O maestro inglês Simon Rattle é um dos mais inventivos da nova geração. À frente da City of Birmingham, ele apresenta a "Barcarola para Grande Orquestra" e a "Sinfonia nº 7" do compositor alemão contemporâneo Hans Werner Henze.
As peças não têm a baba religiosa da moda, nem o hermetismo da escola de Darmstatt. São obras interessantes, que usam o sistema tonal, mas de modo livre.
O último disco não é bem de música erudita. É "The Lorelei", primeiro álbum solo da cantora americana Kim Creswell, com sucessos da Broadway dos anos 40. Ela poderia ter um timbre mais bonito, mas tem swing, fraseado e dicção, e dá vida a hits de Porter, Gershwin e Rodgers & Hart.

Discos: "Macbeth", de Verdi; "The Rape of Lucretia", de Britten; "Dona nobis pacem", de Vaughan Williams; "Sonatas nº 21, 24 e 31", de Beethoven; "Concerto para violino nº 1", de Paganini; "Sinfonia nº 7", de Henze; "The Lorelei".
Intérpretes: Maria Callas, Peter Pears, Richard Hickox, Stephen Kovacevich, Sarah Chang, Simon Rattle e Kim Creswell, entre outros.
Preço: R$ 25,00 (o CD, em média)
lançamento: EMI

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