São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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FÉRIAS FRUSTRADAS

SIMONE GALIB E LUCIANA VEIT
DA REPORTAGEM LOCAL

Viajar é um prazer? Nem sempre. Fatores externos, alheios aos planos de qualquer um que não pensa em problemas quando sai em férias, transformam a vida dos passageiros em um inferno.
O turista em busca do paraíso prometido pelo descanso acaba, muitas vezes, no calvário do estresse pela perda ou atraso do vôo; pela peregrinação nos aeroportos; pelas escalas imprevistas nos lugares mais imprevistos ainda; pelo quarto do hotel com vazamento de água.
Nas férias do real, o brasileiro viajou como nunca. Muitos também sofreram como nunca. No balanço da volta, restaram a frustração e inúmeros protestos nos órgãos que atendem o consumidor.
Aconteceu de tudo. Histórias que fariam morrer de inveja o ator Chevy Chase, que no filme "Férias Frustradas" (1983) só se deu mal ao tentar viajar com a família.
As estudantes Cíntia e Erika Pagani, residentes em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, levaram no final do ano passado 27 horas para viajar a Maceió. Um trecho normalmente feito em cerca de três horas.
O vôo da companhia aérea Air Vias, que opera fretamentos, após sucessivos atrasos ainda sofreu uma pane. Os passageiros aterrisaram em Recife e só conseguiram chegar a Alagoas no dia seguinte. E de ônibus.
Mais insólita ainda foi a aventura vivida pelo arquiteto paulistano Luciano Calvis em janeiro deste ano. A viagem para a ilha Margarita, na Venezuela, durou nada menos que dois dias. Calvis, que embarcou num vôo da Viasa com a mulher e a filha de três anos, fez uma escala de 13 horas no Rio de Janeiro.
A confusão foi tanta que a tripulação da companhia aérea venezuelana abandonou os passageiros dentro do avião e chamou a Polícia Federal para resolver o caso. Todos foram levados a um hotel.
Um tanto amargo foi o regresso ao Brasil do promotor de Justiça Carlos Freitas Alves, 32, após uma semana paradisíaca a bordo de um transatlântico no mar do Caribe, na companhia da família e amigos.
Um atraso de 40 minutos no vôo entre San Juan-Miami e a demora na liberação das malas levaram o grupo a perder o avião da AeroPeru que os traria de volta ao Brasil. Perderam também o humor, a paciência e, o que é pior, as passagens aéreas, que eram promocionais e não-endossáveis.
Depois de muita discussão no Aeroporto Internacional de Miami, precisaram comprar novos bilhetes da Varig para deixar os Estados Unidos. Juntos, os cinco brasileiros desembolsaram mais de US$ 4.000. Agora, estão dispostos a acionar a Justiça para conseguir recuperar o dinheiro.
Os atrasos em vôos —fato corriqueiro da aviação, responsável por 80% das reclamações que chegam à Associação das Vítimas Aéreas (AVA), em São Paulo— não são os únicos responsáveis pelo calvário dos turistas em trânsito.
Há casos em que os problemas ocorrem por desinformação ou descuido dos próprios passageiros.
O empresário Luís Alberto Ferreira, que viajaria com a mulher para Curaçao, nas Antilhas Holandesas, não conseguiu sequer sair do Brasil.
Somente ao chegar ao aeroporto de São Paulo, em Guarulhos, percebeu que o seu passaporte estava vencido. Segundo ele, foi orientado a voltar para a casa e a remarcar a viagem. A mulher, Eliana, que tinha a documentação em dia, resolveu acompanhá-lo.
Conclusão: o casal perdeu o pacote e não consegue remarcar a data porque a excursão seria feita em vôo fretado. As agências afirmam que, nesse caso, não existe reembolso em vôos "charters" após a perda da viagem. O "imbroglio" foi parar nas mãos do escritório da Embratur em São Paulo, que tenta solucionar o caso.
Nesta edição, Turismo mostra como os passageiros que se sentem lesados estão resolvendo seus problemas, ouve as entidades que prestam serviço ao consumidor e traz ainda dicas para os viajantes não queimarem o filme nas próximas férias.

LEIA MAIS
Sobre problemas nas férias nas págs. 6-2 a 6-8.

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