São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Governo faz acordo e metalúrgicos recuam

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (ligado à Força Sindical) desistiu do mecanismo de "gatilho" salarial, anunciou, ontem, seu presidente, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.
O recuo é o resultado de uma reunião, anteontem, entre Paulinho e o ministro do Trabalho, Paulo Paiva, na qual o ministro pediu a Paulinho para abrir mão do "gatilho".
Em troca da desistência, Paulinho reivindicou a livre negociação de salários após a extinção do IPC-r, em junho, e a inclusão dos sindicatos nas negociações para a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas.
"Vamos dar uma trégua e um voto de confiança ao governo", disse Paulinho. "Se o governo aprovar a livre negociação e se apoiar os sindicatos na participação nos resultados, abriremos mão de discutir agora o gatilho".
Segundo Paulinho, o ministro do Trabalho prometeu apoiar as reivindicações dos metalúrgicos junto ao governo. Caso contrário, disse, "vamos conseguir o gatilho com certeza".
O ministro Paulo Paiva confirmou à Folha o acordo com Paulinho, dizendo que vai defender junto ao governo a livre negociação dos salários entre empregadores e empregados.
Devido à inflação, ainda considerada alta, o governo já se manifestou contrário a abandonar o controle da política salarial.
Depois de elogiar o "esforço" dos líderes da Força Sindical em defesa do real, Paiva disse que o fim da indexação dos salários é o melhor caminho para a estabilidade no país.
Ele afirmou que, se os metalúrgicos insistirem, podem conseguir "200 ou 300 novos acordos para gatilhos em uma semana".
Paulinho informou que foram cancelados ontem os acordos para o "gatilho" obtido pelos metalúrgicos nas empresas Lorenzetti e Erico do Brasil.
O sindicalista disse que a Força Sindical vai defender o sistema de livre negociação, em lugar de uma nova política salarial após a extinção do IPC-r (índice oficial para a reposição salarial nas datas-base dos trabalhadores).
Dizendo-se contrário a qualquer tipo de indexação, Paulinho defendeu a livre negociação entre patrões e trabalhadores e afirmou: "a lei da selva é melhor".
CUT
A decisão dos metalúrgicos de São Paulo de apoiar a livre negociação salarial a partir de julho pode provocar uma cisão entre as maiores centrais sindicais do país.
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) disse que não concorda com a posição do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
Vicentinho afirmou que a CUT defenderá a adoção de uma política salarial para substituir o mecanismo de reposição pelo IPC-r.
"A proposta da CUT é o reajuste mensal automático de acordo com a inflação" declarou.
Apesar do distanciamento das posições da CUT e Força Sindical quanto à questão salarial, Vicentinho disse que a divergência "não abala o movimento sindical".
"Não acredito que a Força Salarial concorde com políticas que prejudiquem os trabalhadores. Se for assim, a gente não senta mais do mesmo lado da mesa, mas acredito que isso não acontecerá".
Segundo Vicentinho, a CUT entende que é responsabilidade do Estado ter mecanismos de proteção do poder aquisitivo.
Para ele, as leis são necessárias porque o trabalhador "não tem nenhum tipo de proteção ao salário".
Ele disse não acreditar em negociação livre no Brasil. "É uma mentira. Muitos sindicatos frágeis não têm condições de aguentar o tranco e a estrutura de poder que aí está facilita o arrocho ao salário".

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