São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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PM mata 57,04% a mais em São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

PM mata 57,04% a mais este ano
Secretário diz que orientação não é atirar; OAB apura denúncias de torturas praticadas por policiais
O aumento da violência da Polícia Militar do Estado São Paulo e denúncias de torturas preocupam a OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil-Seção São Paulo).
O número de pessoas mortas pela PM no início do governo Mário Covas cresceu 57,04%, comparando a média mensal de 1994 (43,3) com a média de janeiro e fevereiro deste ano (68).
A OAB-SP está apurando uma denúncia de que três jovens foram detidos, torturados e levados para um quartel por PMs. O caso teria acontecido na segunda-feira passada na zona sul de São Paulo (leia texto abaixo).
Na manhã de ontem, o presidente da OAB-SP, Guido Antônio Andrade, e o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da entidade, o advogado Jairo Fonseca, se reuniram com o secretário da Segurança, José Afonso da Silva.
"Nosso medo é que os PMs matadores se afirmem por causa de um imobilismo da secretaria", disse Fonseca. Segundo ele, nada justifica o crescimento de pessoas mortas pela PM.
Fonseca disse que não houve aumento significativo do número de policiais nas ruas, não houve aumento de crimes e o número de policiais mortos não cresceu substancialmente entre janeiro e fevereiro desse ano.
Andrade afirmou que a comparação entre o número de pessoas mortas e o de feridas pela PM revela uma anormalidade. "Para cada morto, há 0,3 feridos. Em guerras, há, em média, um morto para cada sete feridos."
"Reunimos indícios que levam a um quadro inquestionável de que essas pessoas foram executadas", disse Fonseca.
"Rota Light"
A OAB-SP pediu para o secretário da Segurança Pública reativar o programa "Rota Light" a fim de que policiais que se envolvam em supostos tiroteios com mortes sejam obrigados a se submeter a tratamento psicológico.
Essa foi uma das principais medidas do programa criado pela PM em 92 após o massacre de 111 presos no pavilhão 9 da Casa de Detenção. Seu objetivo era diminuir o número de pessoas mortas pelos policiais.
O resultado da Rota Light foi a diminuição do número de 1.461 mortos em 92 para 409 em 93 —ano em que o programa foi desativado. Na época, o programa foi elogiado pela Human Rights Watch (entidade norte-americana de defesa dos diretos humanos).
Em 94, esse número cresceu para 520. Nos dois primeiros meses de 95, já houve 136 pessoas mortas pela PM.

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