São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Juiz acha que polêmica vai aumentar sua 'credibilidade'

Oscar Roberto afirma que não xingou jogadores no clássico

ARNALDO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Suspenso por 20 dias pela Federação e ameaçado de ser processado pelo São Paulo e pelo sindicato dos jogadores, o árbitro Oscar Roberto de Godói enfrenta as consequências de sua polêmica arbitragem no jogo entre São Paulo e Corinthians, no domingo passado.
Em Lima (no Peru), onde hoje comanda o jogo entre Sporting Cristal e Bolivar pela Taça Libertadores da América, Godói deu entrevista à Folha por telefone.
O árbitro afirmou estar com a "consciência tranquila".
"Tenho certeza que a minha imagem terá ainda mais credibilidade quando esse episódio terminar".
Godói chega amanhã ao Brasil e espera voltar a apitar jogos do Campeonato Paulista, inclusive do São Paulo, "em breve".
Leia a seguir os principais trechos da entrevista do juiz.

Folha - Qual a análise que você faz sobre os acontecimentos envolvendo a sua arbitragem entre São Paulo e Corinthians?
Godói - Continuo achando que durante o jogo não aconteceu nada de anormal e que apitei corretamente. Nas expulsões, eu também acertei.
Os problemas ocorreram fora do campo, com a atitude irresponsável de um jogador que me acusou de uma coisa que absolutamente não fiz.
Repito que não estava embriagado e que não tomo uma gota de álcool há três meses.
Folha - Antes do jogo você não tomou nada?
Godói - Apenas dois copos d'água oferecidos pelo São Paulo. Não tomo bebida alcoólica para manter a minha forma.
Folha - Você ficou satisfeito em saber que o resultado de seu exame antidoping deu negativo?
Godói - Fiquei sabendo do resultado do exame lendo uma reportagem da Folha aqui em Quito.
É lógico que o exame antidoping daria negativo, assim como não há possibilidade de haver problemas com o exame de sangue, que será divulgado em alguns dias.
Mas só ficarei satisfeito realmente quando terminar essa história toda e o culpado for punido.
Alguém está faltando com a verdade nesse caso e precisa pagar por isso. O tempo dirá quem deve receber o castigo.
Folha - Como você recebeu a notícia da suspensão de 20 dias imposta pela Federação Paulista de Futebol?
Godói - Também fiquei sabendo da punição através da imprensa. Não concordo com ela, mas acato a decisão, porque veio de uma pessoa que respeito e sempre me deu força nas minhas atuações como árbitro: o presidente Eduardo José Farah.
Folha - A Federação alegou conduta antiética para a suspensão. Você concorda?
Godói - O motivo alegado, conduta antiética por ter ofendido a imprensa, não procede.
A única coisa que fiz foi recusar entrevistas antes e após a partida, como prevê o próprio código de arbitragem da Federação.
Só xinguei um repórter quando ele pisou no meu pé, na tentativa de obter uma entrevista.
Folha - Parece que você será processado pelo sindicato dos jogadores por ter ofendido alguns deles no clássico de domingo...
Godói - Não ofendi nenhum jogador. Se tivesse feito isso, eles teriam uma reação imediata durante ou após o jogo.
Eles estão pensando em me processar só para proteger um companheiro (Júnior Baiano), que agiu de forma errada.
Folha - Mas vários deles confirmam que foram ofendidos por você.
Godói - Dos 28 jogadores que jogaram domingo (14 do São Paulo e 14 do Corinthians), só três ou quatro deles estão dizendo que foram xingados.
Na expulsão do Rogério, por exemplo, quando o Júnior Baiano fez gestos dizendo que eu estava embriagado, a câmera de TV estava centralizada em mim. Aí você pode ver que não ofendi ninguém.
Folha - O São Paulo também está querendo processá-lo por uma entrevista que você deu em uma rádio. Você chegou a dizer que o clube era especialista em casos de doping e precisou negociar jogadores que poderiam ser flagrados pelo exame.
Godói - Eu não acusei ninguém. Só repeti a história levantada pelo médico Osmar de Oliveira, em 1992, e citei o caso do Zetti, com o chá de coca.
O Osmar de Oliveira disse que o exame de um jogador do São Paulo deu positivo na época, mas a contraprova foi negativa. Não estou preocupado com isso.
Folha - Você acredita que ainda exista clima para você apitar jogos do São Paulo?
Godói - Com certeza. Não tenho nenhum problema com o clube São Paulo. Só com seu técnico, que me persegue.
Folha - Telê Santana diz que você tem raiva dele. Você confirma isso?
Godói - Foi ele quem criou esse problema entre nós. De qualquer forma, não me sinto pressionado, quando apito jogos em que ele está presente.
Já enviei uma interpelação ao Tribunal de Justiça Desportiva da Federação, para que o Telê esclareça as acusações que vem fazendo contra mim e contra outros quatro juízes.
(Telê citou José Aparecido de Oliveira, João Paulo Araújo, Silas Santana e Edmundo Lima Filho, além de Godói, como árbitros mal intencionados, que não teriam mais condições de apitar jogos do São Paulo).
Folha - Você acha que a continuidade de sua carreira fica prejudicada por esse episódio?
Godói - Sou um árbitro da Fifa e o importante é que estou com a consciência tranquila, pelo meu caráter e dignidade.
A imprensa tem condições de mostrar toda a verdade sobre o caso e tenho certeza que sairei dele mais fortalecido. Vai servir para me dar ainda mais credibilidade.

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