São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Nobres e burgueses excluíram do cardápio o imigrante pimentão

HAMILTON MELLÃO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

O pimentão foi mais uma das hortaliças exóticas que apareceram na Europa trazida pelos desbravadores ou, como pede uma visão politicamente correta, "invasores".
Originário do Peru, ao contrário do tomate, as pessoas não o viam como um alimento tóxico, só que quando levado à corte de Luís 14, não foi apreciado. Provavelmente deve ter sido servido cru, pois os cozinheiros da época não sabiam como proceder com aquelas estranhas iguarias que chegavam do além-mar. Não tendo sido aceito pela nobreza —formadora de opiniões— foi também descartado pela burguesia.
Porém, sendo de cultivo fácil e adaptando-se muito bem ao clima europeu, foi adotado pelos pobres da Europa toda.
Um modo de fazê-lo é curiosamente comum a quase todos os países da Terra, mudando somente de nome. Pegue vários pimentões, se possível de várias cores para dar mais alegria ao prato, retire suas sementes e corte-os em quadrados.
Também corte em quadrados a mesma quantidade de tomates (sem sementes) e de cebolas, da mesma forma. Numa panela com tampa, coloque toicinho, ou azeite, ou azeite e manteiga (essa é a única diferença de como esse prato é feito no mundo).
Deixe então esquentar e adicione todos os ingredientes de uma só vez. Mexa bem, tampe e deixe por cerca de 20 minutos em fogo brando. É uma excelente guarnição para carnes, podendo ser comido sozinho, quente ou frio.
O pimentão não apresenta digestão fácil, pois traz pouca água na sua composição e portanto um alto índice de celulose. Para torná-lo menos indigesto, espete-o num garfo e coloque-o na chama do fogão, deixando que toste igualmente por todos os lados. Lave-o e com carinho retire-lhe a pele.
A partir daí, os italianos, por exemplo, os cortam em tiras finas, colocam azeite, um pouco de alho picado, sal e pimenta. Em algumas regiões da Itália, usa-se temperá-lo também com azeitonas pretas, alcaparra, manjerona e hortelã picados. O cinquentenário restaurante Roberto serve-os assim nesta forma singela, no seu tradicional antepasto.
A Europa está vivendo um período de efervescência no terreno das idéias gastronômicas: a cozinha regional foi revalorizada e reelaborada com o auxílio da "velha" nova cozinha, com isto acontecem pratos geniais como um ravioli recheado com pato, levando como molho purê de pimentão. Este prato foi criado na Antica Osteria del Teatro, em Piacenza, perto de Milão.
Este purê é facílimo de fazer. Basta bater num liquidificador o pimentão sem pele e esquentá-lo com creme de leite, para torná-lo mais suave. Este creme pode ser usado como molho de um filé mignon apenas grelhado ou para uma massa seca.
Na cozinha libanesa, existe uma pasta para se comer com pão que é deliciosa. Pegue pimentões vermelhos, sem pele, e faça o purê. Adicione então nozes moídas, tahine, farinha de rosca, um pouco de limão e pimenta. Esta pasta se chama mahamara e é feita com o habitual capricho na Brasserie Victoria.
No Peru, o seu país de origem, os nativos tiram sua pele e sementes por inteiro. Colocam então o pimentão para macerar em vinagre com sal. Preparam à parte um refogado com carne bovina moída, pimenta, cebola e coentro. Colocam este recheio e levam ao forno por alguns minutos.
Já é possível encontrar em São Paulo pimentões azulados, brancos, alaranjados e pretos, importados da Holanda, que junto com os tradicionais verde, vermelho e amarelo, fazem uma gama de cores capaz de dar vida a qualquer salada. Estes pimentões maravilhosos podem ser encontrados, assim como outras hortaliças exóticas, no Empório Santa Maria.

ROBERTO: r. Treze de Maio, 634, tel. 288-2573
BRASSERIE VICTORIA: av. Presidente Juscelino Kubitschek, 545, tel. 820-8897
EMPÓRIO SANTA MARIA: av. Cidade Jardim, 790, tel. 816-4344

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