São Paulo, sábado, 25 de março de 1995
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Arida voltará ao Senado em sessão secreta

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Pérsio Arida, voltará ao Congresso na próxima semana para dar novas explicações sobre o movimento do mercado de dólar na implantação da nova política cambial.
Desta vez, será feita uma sessão secreta, provavelmente na terça ou na quarta-feira, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Serão reveladas as operações de compra e venda de dólares, de todos os bancos, desde antes do lançamento do novo câmbio.
Ontem, Arida tentava marcar a data da sessão com o presidente da comissão, senador Gilberto Miranda (PMDB-AM). Numa sessão reservada, a presença da imprensa é proibida e nada é gravado pelo serviço de som do Senado.
A nova convocação de Arida foi motivada pelas denúncias do senador José Eduardo Dutra (PT-SE), que obteve dados sigilosos do BC sobre operações dos bancos. Os números levaram o senador a considerar atípicas as operações do BBA-Creditanstalt, do ING e do Pactual.
Será o primeiro encontro entre Arida e Dutra desde que o presidente do BC acusou o senador, anteontem, de ter utilizado os dados com "má-fé" e "intenção política de desestabilizar o Plano Real".

Auditoria
Ontem, o BC iniciou uma investigação interna para descobrir o funcionário que passou dados sigilosos do mercado de câmbio ao senador petista.
Na próxima segunda-feira, Arida nomeará oficialmente a comissão de sindicância encarregada do caso. As investigações se concentrarão no sistema de computador que liga o BC ao mercado.
O BC está levantando quantos funcionários consultaram o Sisbacen para obter dados do mercado de câmbio. Espera-se chegar a cerca de 20 "suspeitos", que serão ouvidos individualmente.
Segundo a Folha apurou, pelo menos 60 funcionários têm acesso às informações passadas ao senador petista —as compras e vendas de dólares no mercado interbancário. Destes funcionários, serão excluídos os que lidam normalmente com os dados.
Todas as 10 delegacias regionais do BC têm acesso às informações, mas as maiores suspeitas recaem sobre as de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, onde tal consulta é mais usual.

Sigilo
José Eduardo Dutra não revelará quem obteve os números junto ao BC. O senador se valerá do parágrafo 5º do artigo 53 da Constituição, que garante a parlamentares o direito de manter sob sigilo as fontes de suas informações.
Arida já assinou uma carta pedindo ao senador que revele seu informante. O documento, que ainda não foi remetido, é considerado apenas um ato político pelo BC —porque é sabido que não terá efeitos práticos.
O senador enviou os dados anteontem ao procurador-geral da República, Aristides Junqueira. Segundo Dutra, o procurador dará um prazo de dez dias para o BC explicar se são normais as operações detectadas.
Pelos números do senador, o BBA fez grande volume de compra de dólares no mercado à vista antes da desvalorização do real. O BC e o BBA argumentam que foi feito um volume semelhante de vendas no mercado futuro.

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