São Paulo, sábado, 25 de março de 1995
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Bump

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

E a tal da GPDA está falando grosso mesmo. Além da reunião de quarta-feira, que serviu mais para os pilotos mostrarem que conseguem se reunir de forma organizada, o primeiro dia de treinos ontem em Interlagos mostrou que falar mal de circuito é legal.
Fantasiar sobre circuito antes de GP é normal e sempre vai acontecer. Faz parte da promoção. Antes, tudo é de primeiro mundo; depois, é tudo "bumpy".
E, queira ou não, o primeiro treino da temporada causou certa emoção. Pena que a disputa entre as fantásticas Williams e as surpreendentes Ferraris foi ofuscada pelo acidente de Schumacher e a pane do carro de Barrichello.
Berger e Alesi, assim como Jean Todt e Nika Lauda, chegaram quietos e, sem ninguém perceber, colocaram seus carros nas duas primeiras filas —mesmo que provisórias.
Para hoje, a coisa não parece que vai mudar muito. A torcida é para que a chuva não atrapalhe uma nova tentativa de Barrichello.
O certo é que, se a Peugeot não conseguir provar rapidamente que seu motor funciona de verdade, poderá esquecer suas ambições na F-1 —leia-se, calar a boca da McLaren e enfrentar a Renault no campo mercadológico.
E a Forti Corse mostrou a que veio: apenas aprender, porque os resultados ainda estão longe.

O acidente de Schumacher comprova o fato de a F-1 ser uma experiência sobre rodas. Não foi criada para isso, mas acabou se transformando no tal laboratório, tão propalado nas propagandas dos patrocinadores.
O problema é que existe uma cobaia dentro do cockpit chamada piloto e esse sujeito, de carne e osso, ainda não é imortal.
Um defeito qualquer numa peça do novo B195 da Benetton quase mandou Schumacher para o espaço —e, apesar de o prefeito chamá-lo de barbeiro, o alemão elogiou a proteção de pneus naquele trecho da pista.
Como Frank Williams disse, nada muda o fato de que Ayrton Senna morreu a bordo de um Williams.
E, por mais que ele ou qualquer outro não seja punido pelo acidente do brasileiro, foi a tecnologia, ou a falta dela, da Williams que fez Senna perder a direção.
Schumacher ontem sentiu o que é perder o controle de seu carro a 160 km/h. Talvez essa experiência faça com que ele se preocupe ainda mais com a segurança.

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