São Paulo, sábado, 25 de março de 1995
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Autores foram tão franceses quanto o 'croissant'

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Só num país como a França escritores como Jean-Paul Sartre e Roland Barthes poderiam deixar o público restrito das universidades e das livrarias para se tornarem personalidades nacionais.
Os franceses cultivam de si mesmos uma imagem feita de grandezas. É uma característica que vem de longe, mas que foi particularmente enfatizada entre os anos 50 e 70.
Era uma maneira de compensar desastres como as guerras coloniais da Indochina e da Argélia ou de se vacinar contra a tristeza provocada pela supremacia econômica da ex-inimiga Alemanha.
A imprensa escrita seguia a mesma tendência, que era consensual e não dependia de acordo negociado ou instrução superior.
A mídia permitia que autores fossem discutidos por quem não os havia lido. A cultura do conhecimento dava lugar à citação de frases que funcionavam como síntese do pensamento na moda.
Sartre e Barthes nunca foram comensais dos governantes. Muito pelo contrário. Incomodavam o establishment conservador. Sartre chegou a sofrer discriminação aberta. Em 1971, o então presidente Pompidou o machucou ao vetar uma série de documentários na TV que daria uma visão retrospectiva de sua vida e sua obra.
Mesmo assim, ele e Barthes integravam, em companhia de tantos outros (Foucault, Lévi-Strauss, Lacan, Derrida) o mesmo pacote ideológico para o qual a França permanecia em sua antiga posição de umbigo no sistema mundial de produção de novas idéias.
Assim, o intelectual influente também se tornava produto de exportação e era visto como um orgulho semelhante ao inspirado pelos filmes de Brigitte Bardot ou pelo desempenho técnico dos aviões Mirage e Caravelle.
Ao afeto dos franceses por seus intelectuais importantes caberia a frase produzida em outras circunstâncias pelo italiano Italo Calvino: "Toda história de amor transborda seu próprio território".
(JBN)

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