São Paulo, sábado, 25 de março de 1995
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Arida e a Escola Base

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO — Até agora, ninguém, pelo menos que eu tenha visto, produziu a demonstração definitiva da culpabilidade ou inocência de Pérsio Arida, o presidente do Banco Central, no caso da mudança cambial.
Nem Luís Nassif emitiu um veredicto, embora seja provavelmente o maior especialista na decodificação do economês.
É sintomático que, em sua coluna de ontem, Nassif não tenha acusado ninguém, mas tenha continuado a usar a danada palavrinha "suspeita".
É uma situação insuportável, porque se está diante de uma de duas hipóteses, ambas extremas:
1) Pode estar se repetindo o caso Escola Base, ou seja, o linchamento moral de uma pessoa, no caso Pérsio Arida. Pior ainda: no caso da escola, ainda houve vozes (isoladas, é verdade) que desde o início reclamaram.
Agora, não. Flutua no ar a preconceituosa sensação de que todo funcionário público é corrupto por natureza e, portanto, qualquer acusação contra qualquer um deles tem seu fundo de verdade. Dispensa-se a apresentação de provas.
Esse tipo de indignação seletiva é terrivelmente daninho.
2) Ou, então, se está mesmo diante de uma irregularidade e, não obstante, o responsável continua respondendo pelo Banco Central.
Há, na questão, um lado que é mais importante até do que o episódio da banda cambial em si. Trata-se do fato de que o Estado opera em tal segredo que o público não consegue acompanhar suas atividades, como se se tratasse de um "aparelho" clandestino.
Não é o primeiro caso, aliás. O Estado de São Paulo foi sendo quebrado aos poucos sem que, no percurso, se levantassem vozes suficientemente poderosas para alertar a sociedade ou sem que a sociedade se desse conta.
De duas, uma: ou as operações cambiais (e governamentais em geral) são mesmo tão complexas que só um microgrupo de ultra-especialistas pode dizer se houve ou não maracutaia ou faltam mecanismos de controle da sociedade sobre a sua maior propriedade, que é o Estado. Em qualquer caso, não é uma situação que possa perdurar.

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