São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Má educação vem dos pais, dizem escolas

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Mas só porque meu filho levou bala para o acampamento!", disse um pai contrariado pela punição que o filho tinha recebido. "Estava combinado que não podia levar, é uma regra", respondeu a educadora. "Mas era uma balinha. Se fosse maconha, ainda vai", retrucou o pai.
O diálogo foi contado pela educadora Teresinha Fogaça de Almeida, da escola Ágora, como exemplo da indulgência dos pais. "Quando se leva o cumprimento das regras às últimas consequências, a gente está incomodando esse pai diretamente. Como se estivéssemos cobrando tudo o que ele não está exercendo plenamente na sua cidadania", diz.
A maioria das escolas hoje tomou para si a tarefa de educar os futuros cidadãos. Leis de trânsito, direitos do consumidor, questões do meio ambiente são temas discutidos na sala de aula. Mas além disso, coisas como não mentir, assumir erros e outros valores morais, que costumavam vir de casa para a escola, hoje fazem o caminho inverso.
"Essa coisa da liberdade de poder fazer o que quer foi muito mal entendida por uma geração, que já tem filhos e não sabe educá-los", diz Zélia Cavalcanti, da Escola da Vila. "A educação das novas gerações de pais não dá. As crianças precisam aprender o que é 'não pode'. Isso é um ranço dessa escola alternativa, liberal, em que parece que cada um tem sua ética própria."
Por culpa, falta de tempo para estar com os filhos, medo de errar ou mero descaso, muitas vezes os pais não conseguem estabelecer com os filhos as regras básicas de convivência. Também os pais estão inseridos na cultura do "vale tudo" e na hora de educar acaba vencendo a regra do "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
"Como você vai ter moral para dizer para a criança cumprir as regras se você mesmo passa o farol vermelho? Existe uma cultura do burlar, do não ter ética, do cada um por si. Como a criança lida com isso?", pergunta Teresinha.
"A maioria das escolas acaba reconhecendo que um dos papéis que tem que fazer é o da reeducação dos pais", diz Zélia. "A gente aqui tem reunião de pais para discutir questões de cidadania."
Segundo Maurício Mojilmik, diretor do Equipe, os pais jogam para a escola todos os problemas que deveriam ser deles também. "Coloca-se a responsabilidade e a tarefa de educar os filhos só para a escola. Educação, tóxico, sexo, tudo é escola. E a família faz o quê?", pergunta.
E ele mesmo responde: A família delega: vai para a escola. Mas escola não pode ensinar a criança a dizer bom dia e escovar os dentes. Isso é tarefa da casa", diz.

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