São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Depois da borrasca do câmbio

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Espero que tenhamos deixado para trás este incrível episódio da mudança da banda de flutuação do real.
Não vou incomodar o leitor da Folha com minha revolta por grande parte dos acontecimentos destas últimas duas semanas. Vamos olhar para frente e concentrar nossa atenção nestes dias difíceis que estamos vivendo na busca da tão desejada estabilização econômica.
Acredito ser este o objetivo da grande maioria da população. Fica por conta de uma minoria, reunida por diversos interesses menores, a tentativa de desestabilizar o Plano Real.
O governo tem de reconhecer que vivemos atualmente uma grande armadilha na gestão da conjuntura econômica de curto prazo. E precisa agir rápido, com coragem.
Os ganhos salariais gerados pela redução da inflação provocaram, bem no estilo brasileiro, uma brutal elevação no consumo doméstico. A partir deste estímulo inicial, duas outras forças passaram a alavancar os gastos privados.
A primeira foi o aumento do emprego que veio na esteira do aumento da produção industrial e do setor de serviços. A segunda, e talvez a mais importante, foi a recriação do mercado de crédito ao consumidor.
Este mesmo fenômeno aconteceu em 86, à época do Plano Cruzado. A grande diferença agora fica por conta da abertura da nossa economia e do volume de reservas externas acumulada pelo Brasil. No Plano Cruzado, tínhamos uma economia fechada e menos de US$ 7 bilhões em caixa. Hoje as importações estão totalmente livres e as reservas são muito elevadas. O crescimento das importações é hoje a razão principal da manutenção de taxas de inflação baixas, apesar do elevado nível da demanda.
Esta explosão do consumo tende a diminuir ao longo dos próximos meses. O volume de crédito ao consumo vai estabilizar-se. O problema é que a crise mexicana e o colapso do mercado de capitais para países da América Latina não mais permitem o financiamento de déficits em conta corrente. Portanto, o governo tem que tomar agora, e de forma contundente, medidas adicionais para reduzir significativamente a absorção interna e, consequentemente, as importações.

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