São Paulo, domingo, 26 de março de 1995 |
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Rebelião à vista
SÍLVIO LANCELLOTTI Paralelamente ao comportamento radical da Europa, uma outra postura de clara rebeldia já começa a fermentar em oposição ao brasileiro João Havelange no mando da Fifa, a entidade que organiza o futebol no universo.Trata-se, por enquanto, de uma postura nada pública e nada oficial, coisa dos conchavos dos bastidores —porém, proveniente de uma região de muita força, a África, que detém cerca de um quarto dos votos da organização. Em 93 a África se manifestou contra a Fifa, depois que Havelange, num lance de rancor infantilóide, cassou Pelé da cerimônia do sorteio das chaves da Copa dos Estados Unidos. Pela cor e pela origem, a África se solidarizou com Pelé. Havelange conseguiu conter o movimento que pretendia tirá-lo do trono da entidade. Então, a África contava com dois aliados oportunistas, a Uefa, que regula o futebol na Europa, e o secretário da Fifa, o suíço Sepp Blatter. Agora, a situação parece muito mais complicada. A Fifa acaba de designar o Qatar, país da Ásia, como substituto da Nigéria, nação da África, na realização do Mundial de Juniores, uma categoria que o continente idolatra . A Fifa expôs as suas razões para o cancelamento do torneio na Nigéria, e os seus motivos ostentam uma lógica razoável —uma epidemia de meningite e uma outra de cólera, de fato constatadas por uma expedição de cartolas. Para o governo da Nigéria, uma ditadura militar, o objetivo da Fifa seria, porém, muito outro: expor, indiretamente, o seu desagrado com a situação política da nação. Mashood Abiola, amigo de Havelange, inspirador do torneio de juniores e presumido vencedor das eleições presidenciais de 93 na Nigéria, anuladas pela ditadura, acabou na cadeia. Segundo Babashola Rhodes, o ministro dos Esportes da nação, ao cancelar o Mundial a Fifa estaria se vingando da ditadura. Folclore à parte, nas conversas de bastidores o camaronês Issa Hayatou, o presidente da confederação da África, vem perfilhando sem rodeios a tese de Rodhes e semeando a sua própria candidatura ao trono da Fifa. "A África não dispõe, na executiva da Fifa, de lugares corretamente proporcionais ao número dos seus votos no congresso. Isso precisa mudar. Exigimos a democracia dentro da Fifa". Haverá um congresso da entidade em Zurique, Suíça, em 1996. "E lá", já promete Hayatou, "a África irá brigar, ingentemente, pelo que considera justiça". Texto Anterior: Campeonato reflete marasmo programado Próximo Texto: Notas Índice |
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