São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Confusão geral

A confusão era geral. É assim que se pode definir o governo desde a mal-conduzida alteração no câmbio, há três semanas. E, se as dificuldades surgiram na área econômica, elas hoje já se manifestam também no campo político.
É sintomático o fato de o governo não ser capaz de vencer desde então nenhuma batalha no Congresso. Esta semana, por exemplo, perdeu importante votação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e viu dificultados seus projetos para a Previdência.
Os parlamentares perceberam a tibieza do Planalto e resolveram tomá-lo de assalto para extrair-lhe cargos e favores. O pior é que o presidente Fernando Henrique Cardoso, cedendo, só fez aumentar a fila e o calibre dos pedidos.
Existem hoje duas espécies de parlamentares governistas: os insatisfeitos e os ingratos. Os primeiros se ressentem de não terem sido contemplados com os cargos que desejavam e, por isso, votam contra o governo. É o caso da bancada do PP. Já os ingratos são aqueles que receberam o seu quinhão no butim, mas nem por isso votam a favor do Planalto. Um clássico dessa espécie é a bancada paraibana do PMDB. Viram a anistia ao senador Humberto Lucena ser sancionada e fizeram um ministro de Estado. Votam contra o governo.
Se as coisas no mundo da política permanecerem como estão, parece difícil que o governo consiga aprovar as alterações constitucionais que diz serem fundamentais para a estabilização da moeda.
Na economia, a situação do governo não é mais confortável. Há três semanas, o presidente do Banco Central, Pérsio Arida, não faz outra coisa senão dar explicações sobre as suspeitas de "inside information" à imprensa, ao presidente, ao Senado e à Câmara. De alguma forma, mesmo que venha a provar de modo cabal que nada de irregular aconteceu, a autoridade monetária já perdeu muito de sua autoridade em todo esse episódio.
E as dificuldades econômicas do governo não se resumem às desventuras de Arida. Na quarta-feira, anunciava-se o maior déficit comercial da história, US$ 1,095 bilhão.
O brutal desgaste do governo já começa a sair dos círculos da política e da economia para chegar à população. FHC, que até algum tempo era o herói redentor da moeda nacional, já não pode sair às ruas sem enfrentar vaias e protestos.

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