São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Tempo de violência

O atentado com gás venenoso no metrô de Tóquio vem lembrar de modo dramático que os problemas de segurança coletiva não apenas estão longe de uma solução satisfatória, mesmo no país tido como modelo de organização e disciplina social, como adquirem formas que desafiam a própria imaginação.
Sem ignorar os fatores objetivos que puderam engendrar uma seita religiosa como a que aparentemente perpetrou o ataque terrorista, é oportuno dar-se conta também dessa tensão permanente em que vivem as sociedades industriais contemporâneas que ao mesmo tempo estimulam e criam oportunidades de multiplicação da violência.
Hoje a violência está presente no cotidiano e na cultura das sociedades de modo contínuo e massificado. Há um indisfarçável culto à violência que não raro se traduz em cultos violentos, frequentemente travestidos de manifestação religiosa. Os pretextos variam, mas se igualam na insanidade dos que acreditam em soluções finais. O ceticismo absoluto converte-se em fé cega numa solução definitiva. E apenas a morte é em si mesma definitiva, irreversível.
Há portanto mesmo entre os desesperados uma esperança irredutível no poder supostamente libertador da morte. Trate-se de seitas religiosas, grupos de "libertação nacional" ou gangues adolescentes nas maiores cidades do mundo.
Há certamente explicações de natureza social, econômica e política para atentados como o de Tóquio, ao World Trade Center de Nova York ou à Amia na Argentina, entre outros. Mas esses episódios de terrorismo urbano, quando ceifam vidas inocentes em nome seja lá do que, revelam o grau extremado de primarismo a que chegam certos grupos. Parece tratar-se sobretudo de fanáticos pela morte, mais até que de fanáticos por uma idéia ou proposta política.

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