São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Governador e secretários assumem dívida

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os membros do governo do Distrito Federal se comprometeram ontem a pagar, com dinheiro do próprio bolso, a dívida de R$ 38,5 mil contraída junto ao Sesi (Serviço Social da Indústria) com a compra de alimentos para os manifestantes contrários à reforma constitucional, na quarta-feira passada.
Reunidos no Palácio do Buriti, sede do governo local, o governador Cristovam Buarque (PT), sua vice, Arlete Sampaio, e os 17 secretários reconheceram ter errado ao "avalizar" as despesas com a alimentação.
Conforme a Folha publicou na semana passada, as faturas do Sesi contabilizando o fornecimento de 10 mil marmitas aos manifestantes foram emitidas em nome do governo do Distrito Federal.
"O governador reconhece que ocorreram falhas no encaminhamento do assunto", diz a nota oficial, distribuída após a reunião entre os membros do governo.
Segundo diz a nota, as falhas "não envolvem qualquer suspeição de má-fé ou quebra de princípios éticos, mas a tentativa de resolver grave problema que poderia maeaçar a tranquilidade da população do Distrito Federal".
A nota não menciona os 10 kg de café e 40 kg de açúcar cedidos pela Polícia Militar para o café da manhã dos manifestantes.
O secretário de Comunicação Social, Moacir de Oliveira, disse que o governo espera que as organizadores "reponham o empréstimo".
Os membros do governo decidiram pagar a dívida pessoalmente após a imprensa levantar dúvidas quanto à legalidade do pagamento com recursos públicos.
Buarque havia inicialmente responsabilizado dois de seus secretários e afirmado que não tinha conhecimento do envolvimento no protesto.
Buarque disse ainda que não iria pagar as despesas com a alimentação dos manifestantes contrários à reforma constitucional.
Na sexta-feira, Buarque recuou e disse que iria saldar a dívida com dinheiro público "se fosse legal".
Um ofício da Secretaria de Fazenda e Planejamento, no entanto, já tinha alertado anteriormente o secretário de Participação Popular e Inclusão Social, Eurípedes Camargo, sobre a ilegalidade da compra, que devia ser feita com licitação.
Camargo ignorou o aviso e serviu como intermediário entre o Sesi e os organizadores do protesto —CUT (Central Única dos Trabalhadores) e Central de Movimentos Populares— na compra das marmitas. Os organizadores da manifestações declararam, porém, que não estavam dispostos a pagar dívida alguma.
O governo vai procurar o Sesi para tentar rever as formas de pagamento e ratear a dívida entre o governador, a vice e seus secretários. Cristovam ganha R$ 7.800 por mês. A vice-governadora e os secretários ganham R$ 6.000.
A primeira fatura do Sesi vence no próximo dia 5. A dívida foi parcelada em três vezes de R$ 9.500, com datas de vencimento a cada 30 dias a partir do primeiro pagamento.
O governo local também decidiu que não vai demitir nenhum dos secretários envolvidos.

Contribuições
O PT de Brasília também se comprometeu, pouco depois da eleição para governador, a pagar uma dívida de R$ 400 mil com a construtora Odebrecht.
A divulgação de que Cristovam Buarque recebeu dinheiro de uma empreiteira deixou os militantes petistas indignados, e o partido resolveu devolver o dinheiro doado. O prazo fixado foi 18 de abril.

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