São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Agricultura no atoleiro

JOSÉ ELI DA VEIGA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para tirar a política agrícola do atoleiro em que se encontra, o que não falta ao novo governo é criatividade.
Apesar de atropeladas pelos reflexos da crise mexicana, as medidas anunciadas nas últimas semanas ajudaram a amenizar o grande desânimo causado pelas primeiras declarações do ministro da Agricultura, José Eduardo de Andrade Vieira.
É verdade que os perigos gerados pelo plano de safra de verão 94/95, fartamente divulgados pela imprensa especializada, estão muito longe de ser afastados.
Mas também é verdade que os novos transtornos estão vindo menos das iniciativas governamentais do que das fortes reações que já podem ser detectadas.
A criação de uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para a comercialização da safra de milho e soja, a ser oferecida às agroindústrias, recolhido pelo BC e linhas externas de financiamento, foi anunciada em meados de fevereiro.
Um mês depois, várias notícias dão conta que as indústrias reduzem compras e evitam formar estoques, alegando que o EGF que lhes foi concedido "não ajudou em nada, porque os juros são muito caros".
A autorização do Conselho Monetário Nacional para que os bancos captem recursos externos para o crédito rural foi confirmada no início do mês, com a previsão de que os produtores poderiam conseguir taxas de juros entre 14% e 18% ao ano.
Só que a temida fuga de capitais já está colocando os bancos numa posição defensiva, preferindo empréstimos com prazos curtos a clientes com liquidez garantida, o inverso do que precisa a agricultura.
A firme determinação em tributar apenas no destino os gêneros de mercado interno, bem como de abrir caminho para a isenção fiscal das exportações agrícolas, "da forma a mais radical possível", foi enfatizada pelo coordenador do programa rural de FHC e atual secretário de política agrícola, Guilherme Dias.
No início deste mês um lobby dos governadores do Centro-Oeste já articulava abertamente suas bancadas de deputados e senadores para não perder controle sobre o ICMS.
Estes três exemplos não esgotam a lista, mas são suficientes para ilustrar os tormentos que o governo está encontrando para aproximar os resultados das intenções.
Tormentos que só podem aumentar com a criação de uma frente parlamentar pelos setores mais ruminantes de sua própria base de apoio.

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