São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Arte brasileira parte para a globalização

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você desembarcar hoje em Osaka, Oslo, Berlim, Madri, Valência, Lisboa, Johannesburgo ou Nova York vai encontrar uma exposição de artista brasileiro.
Até o final do ano serão cerca de 40 mostras de brasileiros no exterior. Adicione as 16 que ocuparam 13 galerias de Nova York nos três primeiros meses deste ano e até parece que o Brasil virou um país exportador de arte.
Melhor do que o ufanismo é que a mão inversa também começar a se tornar verdadeira. Num passeio por galerias de São Paulo pode-se ver gravuras dos norte-americanos Richard Serra e Alexander Calder (1898-1976), do espanhol Eduardo Chillida e pinturas da francesa radicada no Rio Courtney Smith.
É só o começo. Estão previstas em São Paulo mostras de artistas artistas já históricos, como Man Ray (1890-1956) e Robert Mapplethorpe (1946-1989), e de novíssimos como os ingleses Damien Hirst e Marc Quinn. Foi a dupla que ajudou a criar o que a crítica batizou de "arte desagradável" (leia texto abaixo).
No meio do caminho entre históricos e novos, haverá uma retrospectiva de Cindy Sherman.
O que aconteceu com a regra que dizia que artista estrangeiro era mato em São Paulo em ano de Bienal e virava raridade no ano seguinte? Foi dinamitada com ajuda, inclusive, da última Bienal.
Até o ano passado existia um grupo de artistas com trânsito internacional. Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mira Schendel iniciaram a voga na década de 60. Antonio Dias, Cildo Meireles, Waltércio Caldas, Tunga e Jac Leirner foram os eleitos dos anos 70 e 80.
A novidade é que o grupo ficou tão grande que já não é mais um grupo (veja abaixo os brasileiros que expõem no exterior em 1995).
"O mercado internacional está se abrindo para o Brasil porque a última Bienal trouxe críticos, colecionadores e muitos saíram daqui boquiabertos com a qualidade", diz a marchande Luisa Strina.
Qualidade, como se sabe, é um dos quesitos que interessa a um comprador. Em outro, preço, a arte brasileira também é boa.
"Tem obra do Tunga por US$ 5.000, preço de um artista de bar em Nova York. Arte brasileira é boa e baratíssima", resume.
Não é o único movimento que impulsiona o troca-troca. Segundo Thomas Cohn, o primeiro marchand a se arriscar em praças internacionais em meados da década passada, os principais mercados estão em crise. Com isso, as galerias preservam seus artistas de preços vexaminosos e expõem artistas mais baratos, como os brasileiros.
"Exponho estrangeiros porque é a proposta da galeria, e o mercado internacional funciona em mão dupla: só consegue mandar artista para o exterior quem mostra artista internacional", diz Marcantônio Vilaça, da Camargo Vilaça.
Tanto ele quanto Luisa Strina são a prova dos noves de que a estratégia funciona. Dizem retirar 50% do faturamento de suas galerias de vendas para o exterior.
A marchande Isabella Prata está atrás de um filão quase virgem: o das exposições internacionais que rodavam o mundo e, não se sabe por quê, não vinham para o Brasil.
Está agenciando a vinda das mostras de Man Ray, Cindy Sherman e Robert Mapplethorpe e ajudando a enviar seis brasileiros para Nova York. "Há um público louco por exposições internacionais, e só a Bienal não dá conta disso", diz.
A movimentação tem um paralelo na arte brasileira: a bossa nova nos anos 60, quando Tom Jobim trocava figurinhas com Frank Sinatra. A comparação procede com um senão, segundo Luisa Strina: o troca-troca está só começando.

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