São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Sexo ou dinheiro

MARIA ERCILIA
EDITORA-ADJUNTA DO MAIS!

E a Exon Bill passou tranquilamente pelo Congresso americano. A proposta de lei que criminaliza a transmissão de obscenidade por computador foi aprovada na quinta passada. O chamado Communications Decency Act (ou Exon Bill), que veio discretamente embutido num pacote de mudanças nas leis de telecomunicações dos EUA, torna passível de prisão por até dois anos e multas de até US$ 100 mil aquele que transmitir material obsceno, lascivo ou indecente por redes de computadores. A proposta ainda não é lei, mas passou por 17 votos a 2.
Está cheio de sexo na Internet: das modalidades mais ortodoxas, como a revista Playboy, até coisas bem mais esquisitas. Os grupos de discussão que começam por alt.sex têm de tudo, do alt.sex.movies ao alt.sex.spanking. O grupo alt.binaries.pictures.erotica (dedicado a troca de fotos eróticas) foi banido na Austrália. A Universidade Carnegie Mellon baniu alguns grupos alt.sex também, mas a gritaria dos alunos foi tamanha que os grupos foram reintegrados.
O IRC (Internet Relay Chat) também ferve de fantasias sexuais. O IRC (Internet Relay Chat) é a porção radioamador da Internet, é onde as pessoas se encontram e conversam digitando mensagens na tela, em milhares de canais orientados por temas. Na dúvida, é só digitar /list *sex no IRC para ver o tamanho da encrenca...
Estranho seria se não tivesse pornografia na Internet. As pessoas sempre encontram jeito de enfiar sexo em todo meio de comunicação e expressão, do cinema à literatura ou ao telefone. A pornografia nas redes até incomoda menos, pois só é exposto a ela quem procura. É uma tremenda hipocrisia, com uma indústria pornográfica feita para ganhar muito dinheiro em pleno funcionamento, criminalizar todo o tráfego de material erótico por computador, geralmente feito de forma amadora e na maior gratuidade.
E quem vai decidir o que é obsceno ou não? Essa expressão é extremamente vaga, e pode transformar em crime a troca de cartas entre namorados, por exemplo. Essa emenda é tão absurda que torna crime dentro das redes de computador atos perfeitamente legais fora delas, como enviar um livro pornográfico para alguém. Ela condena adultos a ler somente coisas apropriadas para crianças. Só faltava precisar de um selo de aprovação Disney na Internet. Pior: não há nenhuma distinção nesta emenda entre público e privado, ou entre consensual e não-consensual.
A proteção às crianças é a grande bandeira do senador James Exon, criador da emenda. Só que em vez desta proibição grosseira e equivocada, deveriam ser pensadas alternativas como o uso de filtros de informação onde houvesse uso da rede por crianças, por exemplo.
Mais um ponto para o avanço conservador nos EUA. Não demora muito para questões semelhantes chegarem ao Brasil, com a diferença de que aqui não há uma comunidade tão organizada na Internet. Esperemos que também não haja tanta histeria puritana.
Dinheiro
Coisa mais freudiana, enquanto se tenta estrangular o trânsito do sexo na Internet, o dinheiro eletrônico toma forma. A conexão entre é óbvia: troca-se a liberdade sexual não-lucrativa pelo consumo organizado.
Três gigantes financeiros testam sistemas de pagamento seguros pela Internet. O banco californiano Wells Fargo lança em abril o Cybercash. Em julho, é a vez da aliança entre a Mastercard e a Netscape, e no fim do ano, sai o sistema Visa/Microsoft.
O pagamento por cartão de crédito é possível hoje na Internet, mas é inseguro. As compras pela rede são estimadas hoje em US$ 100 milhões por ano, mas a projeção para o ano 2000 é de US$ 300 bilhões. Isso é que é obsceno...
O e-mail de NetVox é folha sol.uniemp.br

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