São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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O desabafo do ministro

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — "Está muito mais difícil do que eu imaginava", disse ontem a esta coluna o ministro Reinhold Stephanes, ao comentar as reações à reforma da Previdência. Prevendo derrotas nas votações, ele se mostra disposto a oferecer "compensações" aos futuros aposentados.
Exemplo de uma eventual compensação: um professor do ensino básico ganharia gratificação em seu salário, fornecido pelo Ministério da Educação, por ter sua aposentadoria postergada. Quanto vai custar ou qual o formato jurídico das eventuais compensações o ministro não faz idéia. Daí se vê como o governo ficou acuado.
A tática oficial é reduzir os focos de resistência. Uma campanha vai ser lançada para tentar reverter o clima na opinião pública. "Estamos nos comunicando muito mal", reconhece.
O que impressiona mesmo o ministro não são as manifestações populares, mas as conversas reservadas com deputados e senadores. A portas fechadas, eles dizem concordar com as mudanças, convencidos de que, mais cedo ou mais tarde, o sistema pode explodir. Mas argumentam: seriam malucos se ficassem contra seus eleitores.
Um deputado disse a Stephanes que, em tese, assinaria embaixo da emenda enviada ao Congresso. Mas explicou que sua eleição se deve, basicamente, aos professores e evangélicos —a emenda determina que as igrejas paguem impostos previdenciários. O deputado afirmou o óbvio: se perder esses dois grupos, sua reeleição seria um milagre que nenhum pastor daria jeito.
Na busca de saídas, políticos têm dado conselhos ao ministro, mostrando o clima de desnorteamento. Um deles: os "formadores de opinião" (professores, juízes, magistrados, procuradores) não deveriam perder suas aposentadorias especiais.
PS — Faço hoje uma autocrítica. Tenho aqui atacado as aposentadorias especiais, mas não fui tão duro com minha própria categoria. Não há justificativa séria para se dar ao jornalista tratamento especial. Transbordam exemplos de profissionais que, mesmo depois dos 50 anos, renovam seu talento diariamente. Basta que se olhe acima e abaixo desta coluna: Clóvis Rossi e Carlos Heitor Cony. Algum leitor gostaria, por exemplo, de ver José Simão, com seus 51 anos, aposentado?

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