São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995 |
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Opinião pública retirou apoio, diz governo
GILBERTO DIMENSTEIN; GABRIELA WOLTHERS
Segundo a avaliação governista, a insistência no tema poderia prejudicar a aprovação de outros pontos da reforma, como a flexibilização dos monopólios das telecomunicações e do petróleo, consideradas prioritárias neste momento. Para o governo, a oposição está conseguindo aglutinar manifestantes que, na sua maioria, são especificamente contra a reforma na Previdência. Na prática, a oposição estaria aproveitando os atos contra as mudanças na Previdência para passar a idéia de que toda e qualquer manifestação é contra a reforma da Constituição. Por isso, ao mesmo tempo em que retarda a tramitação da emenda da Previdência, o governo vai jogar todas as suas fichas na aprovação rápida da reforma do capítulo da Ordem Econômica da Constituição. Mais debate "O governo vai acelerar a Ordem Econômica, mas vai aprofundar o debate da Previdência, pois entende que esta área envolve interesses coletivos que têm de ser mais bem-esclarecidos", afirmou ontem o ministro das Comunicações, Sérgio Motta. "O governo está errando muito na comunicação, é um desastre", sintetizou o ministro em conversa com a prefeita de Salvador, Lídice da Matta (PSDB), ontem, na sede do PSDB em Brasília. O ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, concorda com a avaliação. Motta, Stephanes e assessores de FHC no Palácio do Planalto consideram que a oposição conseguiu convencer grande parte dos aposentados de que a reforma na Previdência vai prejudicá-los. "Me entristece ver nas manifestações senhores de idade enganados por lideranças, achando que irão perder seus direitos adquiridos", disse ontem Motta. Mas ele próprio completa: "Mesmo que haja má-fé da oposição, é um erro do governo não esclarecer o conteúdo de suas propostas". Segundo o ministro, o governo dispõe de dados que derrubam as teses da oposição. "Na Previdência, existem 14 milhões de aposentados —11 milhões terão seus direitos garantidos, mas ninguém explica isso", disse o ministro. "O resto são pequenos interesses corporativistas", Lentidão Ao pregar uma tramitação mais lenta da emenda da Previdência, o governo coloca em ação uma antiga prática militar: reconhece que perdeu a primeira batalha e recua para não perder a guerra. A estratégia agora é ganhar tempo para tentar reverter o quadro. Os ministros envolvidos na reforma já receberam a missão de ocupar ao máximo os meios de comunicação para explicar o conteúdo das propostas diretamente à sociedade. Motta é contra a idéia defendida pelo secretário de Comunicação, Roberto Muylaert, de realizar uma campanha publicitária para defender a reforma. Desânimo Segundo afirmou Muylaert à Folha no último domingo, a campanha seria patrocinada pelo Banco do Brasil e pelo Ministério da Previdência. "Sou contra a campanha publicitária, e, se ela for feita, será com verbas da Presidência da República", disse, taxativo, o ministro. Muylaert, por sua vez, já confidencia a assessores que está "desanimado". Segundo ele, sua missão não é cuidar da imagem do governo e, sim, elaborar uma política de comunicação, como o projeto de educação à distância. Texto Anterior: Petista sofre pressões, mas mantém emenda Próximo Texto: Ordem Econômica já recebeu 14 emendas Índice |
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