São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Comércio já importa 30% menos

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Lojistas programam corte de até 30% nas compras de artigos importados a partir de abril.
A menor participação de produtos estrangeiros nas prateleiras daqui para frente se deve às medidas para desestimular as importações e frear o consumo.
"Vamos reduzir 30% as compras de tecidos da Coréia e da China a partir de abril", afirma Romeu Cassia, sócio da Cassia-Nahas, atacadista de tecidos.
Com a desvalorização do real, diz ele, os preços dos artigos importados subiram 10% e as vendas caíram 20% nos últimos 30 dias.
Assim, a empresa, que comprava no exterior 125 mil metros lineares de tecidos por mês vai importar agora 90 mil metros lineares de tecidos por mês.
"Estamos aguardando as novas medidas para arrochar o crédito e o consumo que serão discutidas hoje pelo Conselho Monetário Nacional. Dependendo do resultado, apertaremos ainda mais o cinto."
Giuseppe Bizarro, presidente do grupo Dreams, com 105 lojas de importados e atacadista de eletroeletrônicos estrangeiros, vai cortar 15% as compras a partir de maio.
É que a empresa fechou contratos de importação antes de o governo mexer no câmbio. "Não pudemos mais voltar atrás."
Neste mês, o grupo trouxe do exterior 12 mil geladeiras, televisores, microsystems etc.
Os seus grandes clientes, conta Bizarro, tais como Carrefour, Mappin, Arapuã e Lojas Garson, ainda não cortaram pedidos.
Mas, na sua análise, isso ocorrerá em breve, se o governo arrochar mais ainda o crédito. Motivo: esses produtos são geralmente adquiridos pelo crediário.
Bizarro lembra que as lojas do grupo que atendem diretamente o consumidor registraram queda de 12% nas vendas neste mês na comparação com fevereiro.
A rede de Lojas Americanas é outra que decidiu cortar entre 5% e 10% as importações a partir do segundo semestre.
"Todos os dias estamos comparando os preços dos produtos importados e nacionais para ver se vale a pena ou não trazer mercadoria do exterior", diz Frederico Luz, diretor de compras.
Segundo ele, houve pequena retração nas vendas neste mês sobre fevereiro, mesmo sem mexer nos preços dos importados.
Também o Mappin Stores, que comercializa importados por catálogos, teve queda de 35% nas vendas em março na comparação com as de janeiro.
Walter dos Santos, diretor-presidente da empresa, diz que a retração é reflexo do aumento das alíquotas de importação e da desvalorização do real.
Já a Casa Santa Luzia resolveu verificar se a sua clientela aceita reajuste de até 6% nos preços dos produtos, antes de cortar as encomendas do exterior. Os aumentos começam na semana que vem.

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