São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Freio é inevitável, diz Mailson

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As medidas anticonsumo que serão tomadas hoje pelo governo são qualificadas como "preventivas" pelo mercado financeiro.
"As expectativas são de um aumento adicional no nível de consumo, com a rodada de dissídios e o reajuste do salário mínimo", diz Eduardo Faria, economista do Banco Europeu.
O ex-ministro Mailson da Nóbrega calcula o impacto do mínimo: uma injeção de US$ 1,5 bilhão em um mercado de consumo médio de R$ 28 bilhões por mês.
Mailson lembra que o problema do governo não é exatamente conter o consumo, mas compatibilizar o nível de consumo com a necessidade de gerar um superávit comercial (exportações maiores que importações), da ordem de US$ 5 bilhões, e com a "banda cambial". O atual nível de consumo, acredita, já não é compatível.
Faria acredita que o arrefecimento das vendas, detectado desde o início deste mês, reflete um temor "da classe média com o aumento dos juros". Mas, para ele, o impacto das taxas é irrelevante na camada de baixa renda. "Para eles não existe juro."
Em matéria publicada na Folha no dia 3 de março, a diretora da consultoria Coopers & Lybrand, Olga Colpo, estimava que a concentração de datas-bases em março, abril e maio faria crescer a massa salarial em 13,6%, o equivalente a US$ 1,7 bilhão —descontada as antecipações.
Um dos sindicatos em negociação é o do metalúrgicos do ABCD, que é filiado à CUT. O presidente do sindicato, Heiguiberto Della Guiba Navarro, conhecido por Guiba, diz que a campanha "começa a pegar fogo agora". Está marcada uma assembléia para esta sexta-feira e piquetes, no sabádo, contra as horas-extras.
Guiba diz que é "possível chegar a um acordo". Hoje, os empresários dão sua resposta aos dois principais itens da pauta: 20% de reajuste ("estamos reivindicando a inflação de novembro em diante mais um aumento real") e jornada de 40 horas semanais.
Indagado sobre a possibilidade de as medidas anticonsumo dificultarem as negociações, Guiba afirmou que "o governo sempre atrapalha".
Boatos
Mailson disse estar alarmado com os boatos que circularam ontem no mercado financeiro. Um deles previa que o compulsório seria duplicado. "Isto traria graves consequências para o sistema financeiro e tudo o que o governo não precisa agora é uma crise de confiança", afirma.
Mailson diz ainda que uma medida dessas "provocaria o pior dos mundos". O aumento do compulsório representa uma redução da oferta de crédito, empurrando para cima o juro cobrado do tomador de crédito e reduzindo a oferta. Mas, além disso, tornaria desinteressante para o banco captar recursos. Logo, a taxa paga ao investidor cairia, incentivando o consumo.

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