São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Hanks explica o sucesso de 'Forrest Gump'

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

Com seu segundo Oscar consecutivo de melhor ator, Tom Hanks entrou para um seleto clube de mitos do cinema. Só Spencer Tracy, entre os homens, havia conseguido o mesmo, em 1936 e 1937.
Após a cerimônia, Hanks, 38, disse não crer numa tripleta. "Se for indicado novamente, no próximo ano, poderia se desencadear uma epidemia coletiva de suícidios entre os meus colegas", afirmou após a premiação.
O sucesso com "Filadélfia" e "Forrest Gump" consolidou definitivamente sua imagem com um dos maiores nomes de Hollywood.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista inédita concedida por Hanks à Folha em agosto de 1994.

Folha - A descrição do personagem Forrest Gump, no livro, é fisicamente muito diferente de você. Como foi feita essa adaptação do livro para tela, como você encontrou o seu Forrest Gump?
Tom Hanks - É verdade. No livro ele é obeso, tem dois metros de altura. Desde o início do projeto, desde as primeiras adaptações do livro, nós sabíamos que 75% do que acontecia no livro jamais poderia ser transferido para a tela.
Então restava buscar a essência do personagem: o fato de ele ter um QI de 75 pontos. E de que tudo o que sua mãe dizia era, para ele, a mais pura verdade.
Confrontado com algo que me intrigava na natureza ou no comportamento de Forrest, no script, eu me perguntava: "o que a mãe dele diria a respeito disso? O que ela faria? Por que Forrest só usa camisas de algodão, abotoadas? Porque sua mãe deve ter dito que essa era a vestimenta de um bom garoto."
Para mim, a essência para compreender a odisséia de Forrest Gump é ver o mundo como ele via: do ponto de vista de alguém cujo único senso é o senso comum.
Folha - Forrest Gump é um grande sucesso. Foi uma surpresa para todos aqueles que, durante dez anos, recusaram esse projeto alegando que ele era sofisticado demais. Você está surpreso?
Hanks - De jeito nenhum. Não vou dar uma de falsa modéstia, mas já vi "Forrest Gump" várias vezes, e cada vez acho o filme mais fenomenal.
É muito simples: é um filme bom e as pessoas querem ver um filme bom. As pessoas querem ver algo que nunca viram. Elas querem surpresas. Elas querem o que não é convencional.
É muito difícil para um filme agradar todo mundo. Algo sempre se perde quando se faz um filme intencionalmente para agradar todo mundo. Mas desta vez temos um filme que agrada todo mundo. Qualquer pessoa que vive e respira pode ver um pouco de si neste filme. Sei que parece uma tonelada de imodéstia, mas é verdade.
Folha - Como o sucesso de "Filadélfia" e agora de "Forrest Gump", você acha que sua carreira atingiu um nível diferente, de super-estrelato?
Hanks - Ah, eu não penso assim. Não desse jeito. Fiz quinze filmes na minha vida. Desses, três ou quatro foram realmente excelentes: "Quero Ser Grande", "Sintonia de Amor", "Filadélfia", este agora...
Mas e "A Fogueira das Vaidades"? Por que tudo deu tão errado ali? As coisas são assim, às vezes funcionam, às vezes não. E as pressões vêm de áreas do seu trabalho sobre as quais você não tem o menor controle. Você dá o melhor de si, e o filme pode ser o número um e ganhar um Oscar ou pode ser uma bomba. O que é que você vai fazer?
Folha - Você tem a fama e a imagem de um cara legal. Você acha que é isso que você traz aos personagens que interpreta?
Hanks - Não sei se eu sou um cara legal. Acho que isso é uma percepção alheia, ou melhor, algo criado pelos gênios da relações públicas. Não tenho uma visão assim tão abrangente do meu trabalho.
Para mim, o que importa é procurar a verdade do personagem, sempre. Procurar a lógica de cada personagem. Se eu não compreender intuitivamente essa lógica, não estarei fazendo o meu trabalho.

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