São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995
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PT ataca privatização com 'punho de renda'

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira proposta de impacto do governo Mário Covas (PSDB), que trata da reestruturação e privatização das estatais de energia do Estado de São Paulo, sofreu ontem um bombardeio da oposição, principalmente da bancada do PT, na Assembléia Legislativa.
O secretário estadual de Energia, David Zylbersztajn, convocado para explicar o plano do governo, foi sabatinado por deputados durante a tarde e noite de ontem.
Ele expôs o projeto, em elaboração, de desmembrar as quatro estatais do setor —Eletropaulo, Cesp, CPFL e Comgás— e transferir a gestão das companhias à iniciativa privada.
O Estado, com baixa participação acionária, passaria a ser só regulador e fiscalizador do sistema.
O projeto não chegou à Assembléia, mas o governo tem pressa. Segundo Zylbersztajn, em quatro meses, não haverá dinheiro para pagar os funcionários.
As quatro estatais têm hoje cerca de 40 mil funcionários e um dívida em torno de R$ 13 bilhões, segundo o secretário. Há cerca R$ 3,2 bilhões em dívidas vencidas.
O projeto, se aprovado logo, seria implantado em dois anos.
O PT, porém, já decidiu que vai obstruir a tramitação do projeto. "Trata-se de uma privatização com punhos de renda, lavanda e o charme da Academia, se contrapondo à privatização da Pedra Lascada do período Collor", disparou Rui Falcão, o líder da bancada petista na Casa.
Segundo ele, o PT não é contra a parceria com a iniciativa privada para novos investimentos, desde que esteja garantido o controle público do setor energético.
Falcão declarou também que o partido deve recorrer a todos os recursos parlamentares e a manifestações de rua para barrar, segundo os parlamentares petistas, o projeto privatizante.
Foi o primeiro embate entre o PT e o PSDB na Assembléia. Com 16 deputados, o PT já conta com o apoio do PC do B (dois deputados) e pode vir a obter a ajuda de parte do PMDB e do PPR. É uma "tropa de choque" com poder para, no mínimo, atrasar o processo.
"Espero que os deputados entendam que é uma questão de sobrevivência dessas empresas e que não reduzam o debate para o nível ideológico", disse Zylbersztajn.
Ontem foi o primeiro dia, desde a posse no último dia 15, em que os deputados discutiram uma proposta do governo Covas.
A galeria estava tomada por funcionários da CPFL e sindicalistas, que esboçavam vaias ao secretário de Energia.
Pelo que se viu ontem, uma longa batalha vai se travar no Legislativo em torno do problema energético paulista.
Fuga do PMDB
O PMDB paulista perdeu ontem mais um deputado na Assembléia. Depois de José Carlos Tardelli, sai do partido Bel Correia. Ambos estariam rumando para o PFL.
Tardelli e Correia —assim com outros três peemedebistas— votaram no tucano Ricardo Tripoli na eleição de presidente da Casa. O PMDB agora tem 21 deputados.

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